72 recém-nascidos morrem

Moçambique está a falhar nas suas políticas de redução da taxa de mortalidade neonatal ao longo dos últimos anos (desde 2015, que taxa estagnou nos 56%), estimando-se que, oficialmente, por dia, pelo menos três recém-nascidos morrem a cada hora nas unidades sanitárias do país, saldando-se numa sinistra média de 72 óbitos diários: uma hecatombe.

Segundo as autoridades de Saúde, do total de mortes dos recém-nascidos, os hospitais públicos reportaram em média apenas 10,5%, destas notificações mais de metade ocorreu em fase prematura (idade gestacional menor que 37 semanas).

Das mortes notificadas, 37,7% ocorreram dentro das primeiras 24 horas de vida, 49% entre as 24 horas e os sete dias de vida, 12% em recém-nascidos entre os sete dias e os 28 dias de vida, enquanto cerca de 1,3% não se sabe ao certo o momento exacto da morte.

Na posse destes dados, o Correio da manhã foi ao encontro de especialistas no ramo de pediatria, concretamente, da Associação Moçambicana de Pediatria (AMOPE) que apontam algumas falhas no Sistema Nacional de Saúde (SNS), com vista a reduzir os óbitos em recém-nascidos, principalmente, nas unidades sanitárias.

Ministério da Saúde de Moçambique em Maputo
Ministério da Saúde de Moçambique em Maputo

“É quase incompreensível que um bebé morra no hospital após um parto normal. Mas, por outro lado, as progenitoras não cumprem com as recomendações das consultas pré-natais”, atirou a pediatra Amina Fatar.

Defendendo, de seguida, que o MISAU deve apetrechar as unidades sanitárias prioritárias em equipamento neonatal essencial, baseado nos resultados do inventário realizado.

É nessa perspectiva que as autoridades de Saúde irão iniciar ainda neste 2018 a fase-piloto para a operacionalização de seis unidades distritais do recém-nascido doente nas províncias de Zambézia e Nampula (províncias mais populosas e com as mais altas taxas de mortalidade).

Ao que a nossa Reportagem apurou, o plano será liderado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Associação Moçambicana de Pediatria e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Um “mar” de falhas

Entretanto, Moçambique não é o único país que regista falhas na sua política de redução de óbitos em recém-nascidos, “o mundo todo, no geral, está a falhar”, de acordo com um recente relatório do UNICEF, divulgado em finais de Fevereiro em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA).

“O número global de mortes de recém-nascidos continua a ser assustadoramente elevado, sobretudo nos países mais pobres do mundo, onde os bebés que nascem nesses países têm uma probabilidade de morrer no primeiro mês de vida 50 vezes maior que os outros bebés (países ricos)”, lê-se no relatório.

Ilustrando, os bebés nascidos no Japão, na Islândia e em Singapura, por exemplo, têm as melhores probabilidades de sobrevivência, enquanto os que nascem no Paquistão, na República Centro-Africana e no Afeganistão estão na posição inversa, enfrentando as maiores adversidades para sobreviver no primeiro mês de vida.

A nível mundial, nos países de baixo rendimento, a taxa de mortalidade neonatal é de 27 mortes por cada mil nascimentos, nos países de rendimento elevado, essa taxa é de três mortes por cada mil nados.

O relatório destaca também que oito dos 10 locais mais perigosos para se nascer situam-se na África Subsaariana (Moçambique é o 24.º no ranking), onde as mulheres grávidas têm muito menos hipóteses de ser assistidas durante o parto devido à pobreza, aos conflitos e à falta de infra-estruturas.

O top 10 é composto por Paquistão e Afeganistão (Ásia), República Centro Africana, Somália, Lesoto, Guiné-Bissau, Sudão do Sul, Costa do Marfim, Mali e Chade (África Subsaariana).

A nível da lusofonia, Portugal é o melhor país para se ser mãe, enquanto Guiné-Bissau é o pior.

Para o UNICEF, se todos os países pobres baixassem a sua taxa de mortalidade neonatal para a taxa média dos países de rendimento elevado até 2030, cerca de 16 milhões de vidas poderiam ser salvas.

EDSON ARANTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 09 de Março de 2018.

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