Uma escola indispensável

Uma escola indispensável –  No dia em que me fui apresentar ao editor do Correio da manhã, actual Redactor, para trabalhar, eu vivia sentimentos mistos: entre lutar por um sonho ou abandonar a profissão jornalística. Havia uma razão para tal. Estava no início da carreira que começara em Julho de 1999 e a equipa do primeiro jornal para o qual trabalhava decidiu entrar em greve no mês de Outubro. Vi-me numa encruzilhada.

Mas, apercebendo-se da minha inquietação e por achar que eu tinha potencial como jornalista, o meu mentor Alexandre Chiúre, então editor do jornal Imparcial, mandou-me falar com o editor Refinaldo Chilengue cuja fama quanto ao nível de rigorosidade era das mais altas da praça. Entrei no seu gabinete todo trémulo e saí de lá convicto do que queria para o resto da minha vida. Eu estava na escola certa que me permitiria perceber mais tarde que não só tinha um nível de resiliência elevado em relação aos desafios que impõe a um principiante, como também tive a convicção de na altura estava diante do melhor orientador para ultrapassar o momento crítico que vivia enquanto escriba júnior. Sem paternalismos.

 Dias depois vivia num ambiente de constante medo. Diariamente era posto à prova com questões delicadas do género: “Que pergunta fizeste à tua fonte para obteres essa resposta”. Mas a que não me esqueço é a seguinte: “Como é que, de forma breve, contarias a um amigo tudo isso que tens registado no teu bloco de notas”. Pânico total. Mas esse exercício fazia-me perceber que mesmo me safando naquele momento, no dia seguinte, enfrentaria um desafio maior no jornal que me acolheu numa altura em que o que mais queria era aprender a ser bom jornalista.

A Redacção do jornal situa-se num terceiro andar, pelo que decidi adoptar uma técnica: ainda pelo caminho, fazer-me todas as perguntas possíveis para saber sair deste exame de forma brilhante. Fui aprimorando, mesmo sem saber a utilidade deste treinamento hoje em dia.

O diário Correio da manhã, actual Redactor, sempre foi um jornal surpreendente pela versatilidade dos conteúdos que puxava para a primeira página. Apesar de, na altura, ter um cariz mais económico, o desafio que se nos impunha era exactamente o de produzirmos textos jornalísticos com um interesse para o público que variavam entre temas de Economia e de carácter social. Era uma luta diária que muito cedo me fez perceber que ser jornalista era saber contar estórias de vida, desde que se respeitasse os preceitos jornalísticos. Pessoalmente, foi-me útil sobretudo quando ingressei na Lusa como correspondente em Maputo – por sinal uma agência de onde o editor Refinaldo Chilengue trabalhou e, seguramente, aprendeu boa parte das técnicas que nos transmitia – e mais tarde na rádio ONU (hoje ONU News). Evolui rapidamente por me ter dado a oportunidade de um dia submeter-me ao desafio imposto pelo grupo SOJORNAL.

Diz o ditado: A melhor escola de jornalismo é uma Redacção…, seguramente, com um bom editor à mistura.  É a comemoração permanente de uma efeméride de uma escola indispensável para quem quer ser jornalista.  (Uma escola indispensável)

MANUEL MATOLA *

*   Correspondente em Portugal da SABC e

Director Editorial do Jornal É@GORA, uma publicação virada integralmente para a temática da Imigração. Escreveu este artigo intitulado “Uma escola indispensável” por ocasião dos 24 anos do jornal Redactor e 14 da revista Prestígio, assinalados no dia 10 de Fevereiro de 2021

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2 comentários em “Uma escola indispensável

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