Pobreza nasceu terrorismo
Pobreza nasceu terrorismo em Moçambique – Tenho falado e escrito na rubrica O Rancor do Pobre, do jornal Redactor, que nasci numa família pobre. Toda minha aldeia e distrito eram e continuam pobres.
As pessoas dependem de agricultura de subsistência. Algumas poucas trabalham nas minas de ouro, carvão, crómio, platina e outros minérios em várias regiões da África do Sul.
A escola na qual fiz o ensino primário localizava-se a cerca de 10 quilómetros de casa. Não havia transporte. Andava-se a pé e sem sapatos para escola. A escola secundária localizava a cerca de 35 quilómetros da minha casa, sendo que para continuar com os meus estudos passei a viver no centro internato da escola.
A minha mãe, Alcina João Machava, disse que me nasceu debaixo de cajueiro frondoso. Foi assim com outros nove dos meus irmãos.
O hospital mais próximo ficava a pelo menos 25 quilómetros.
Entretanto, agora com cerca de 60 anos de idade nunca houve terrorismo na minha aldeia ou distrito, provocado pela pobreza.
É muito estranho ouvir dizer que em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, a pobreza nasceu terrorismo.
Dizem que populações locais de Cabo Delgado consideram que não são alegadamente envolvidas nos projectos de exploração de recursos naturais nas suas aldeias, distritos e província.
Alegam que seus filhos não têm oportunidades nos projectos.
Mas estatísticas de desemprego indicam que o continente africano tem cerca de 11 por cento da população jovem desempregada.
Quase todos os países africanos são pobres e dependem de apoio externo para manutenção de serviços públicos básicos.
Em 2020, a África do Sul, país mais industrializado no continente africano, tinha 55 por cento de desemprego juvenil, mas não há terrorismo. O país tem, sim, elevado índice de criminalidade.
Cerca de 60 pessoas são brutalmente assassinadas por dia em situações de pura criminalidade. Estudantes nas 26 universidades públicas fazem manifestações violentas, mas não terrorismo que decapita pessoas à vista de todos.
Alguém escreveu esta semana que bandidos (terroristas) desprezam a vida humana. Disse mais, eles assassinam brutalmente. Gostam de sangue. A população está em desespero.
No ano passado, mais de 50 jovens foram brutalmente assassinados num descampado em Cabo Delgado alegadamente porque recusaram aderir ao movimento terrorista.
Jovens recusaram porque não se identificaram com o terror, mesmo sendo pobres numa aldeia na qual se explora recursos.
Em todo o mundo há pobreza, de uma ou de outra forma.
Para mim, terrorismo não é filho da pobreza. Académicos devem apresentar outros argumentos para me convencer.
THANGANI WA TIYANI
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 31 de Março de 2021, na rubrica de opinião denominado O RANCOR DO POBRE
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