Oldemiro Balói, o “tsotsi”?

Oldemiro Balói , o “tsotsi”? – Lamentavelmente, não pertenço ao clube de privilegiados que conviveram e/ou privaram com Oldemiro Balói, o político e tecnocrata que finalizou o ciclo da vida nesta semana e que desde já rogo que tenha eterno descanso e me curvo perante a família enlutada.

Muitas poucas oportunidades tive de estar por perto de Oldemiro Balói, mas posso dizer que, do que já ouvi dos que com ele conviveram longamente, foi um excelente cavalheiro, um homem educado e brincalhão, quando fosse para tal.

A primeira vez que estive próximo de Oldemiro Balói foi em Pretória, na vizinha República da África do Sul. Como jornalista, fora convidado para cobrir mais uma cimeira da SADC e na altura Oldemiro Balói era chefe da diplomacia e cooperação de Moçambique.

Mesmo nessa qualidade, não se distanciava dos “simples” jornalistas e com eles conversava, de forma extraordinariamente relaxada, de tal forma que, se chegasse alguém estranho, mal poderia saber que aí estava um governante de topo e alguns governados.

A dado momento surgiram aqueles sinais indiciando claramente que o “chefe” – neste caso Aramando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, está prestes a entrar na sala. Oldemiro Balói retirou aquele chapéu que gostava de usar em ambientes informais, comentando, em ronga: vou retirar este chapéu que me faz parecer um “tsotsi” (malandro), porque está a chegar o Sr. Presidente da República. Foi uma gargalhada em cadeia.

Chegado o momento de o presidente Armando Guebuza – esse estadista que deixou muitas saudades na “tribo” de jornalistas moçambicanos – dar o briefing sobre a cimeira, houve um momento em que “Tchembeni”, mesmo com aquele excepcional dote de oratória que possui – não fosse ele poeta – por uns instantes “gaguejou”, prontamente Balói socorreu o seu chefe sugerindo “diz etecetera Sua Excelência”, suscitando uma bateria de gargalhada de quase todos.

Outra das poucas oportunidades de estar perto de Oldemiro Balói aconteceu em Maputo. O MISA organizara um evento que deveria ser “aberto” pelo Primeiro-Ministro. No entanto, este optou por indicar o chefe da diplomacia para o representar e o homem caracterizado por uma simplicidade e sorriso permanente, características aparentemente em vias de extinção entre os “poderosos”, lá esteve connosco.

Ao justificar a sua presença, no lugar do Primeiro-Ministro, Oldemiro Balói encontrou outra oportunidade de demonstrar que é diferente de outras “excelências”, geralmente sempre carrancudos, avarentos e postura de “poucos amigos” e, depois de declarar aberto formalmente o encontro, brincou: “seria bom se o Primeiro-Ministro andasse sempre impossibilitado para abrir encontros com jornalistas, porque me proporciona este tipo de convívios raros”. É óbvio que a sala rebentou em gargalhadas e a descontração assaltou os presentes.

Presumo o ambiente que se vive “”, onde Baloi está, desde a manhã de 14 de Abril de 2021.

Descanse em paz, Balói

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 16 de Abril de 2021, na rubrica de opinião denominado TIKU 15.

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