Ângela Leão “ameaçada”

Ângela Leão – A mulher do antigo diretor da “secreta” moçambicana, Ângela Leão, negou, no julgamento das ‘dívidas ocultas’, em Maputo, que tenha adquirido imóveis com subornos pagos pelo estaleiro naval Privinvest, acusando o Ministério Público de a ter ameaçado.

“Os meus imóveis não foram pagos pelo dinheiro da Privinvest: foram pagos com o meu dinheiro”, declarou Ângela Leão, respondendo a questões colocadas pelo Ministério Público (MP) na sua primeira aparição esta quinta-feira em mais uma sessão na cadeia de máxima segurança de Maputo, em tendas adequadas à dimensão do caso.

Ângela Leão, de 43 anos de idade, e o seu marido, Gregório Leão, são acusados pelo Ministério Público de terem beneficiado de um total de nove milhões de dólares norte-americanos em subornos pagos pela Privinvest pelo papel que o ex-director do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) teve para a aprovação do projecto de proteção da Zona Económica Exclusiva, usado como ardil para a contratação das ‘dívidas ocultas’.

Segundo o Ministério Público, a mulher de Gregório Leão, que também é réu, terá usado parte do valor para comprar vários imóveis em zonas nobres de Maputo, com ajuda do empresário de construção Fabião Mabunda, também réu e que confessou na terça-feira ter recebido um total de 387 milhões de meticais da Privinvest a pedido de Ângela Leão.

Em tribunal, a empresária do ramo de entretenimento negou todas as acusações, considerando que o valor pago para aquisição e construção dos vários imóveis é proveniente de fundos próprios, embora o MP tenha apresentado em tribunal documentos extraídos do correio electrónico de Fabião Mabunda que mostram as transferências.

Ângela Leão acusou ainda o Ministério Público de a ter ameaçado na fase de instrução preparatória, alegando que o processo envolve mais pessoas, que não foram arroladas nos laudos acusatórios.

“Houve rixas entre nós”, declarou Ângela Leão, apontando o seu dedo a um dos magistrados na sala que supostamente a terá “ameaçado” durante a instrução preparatória ocorrida há quase três anos.

“Este problema tem quatro instituições envolvidas: os ministérios do Interior, da Pesca e da Defesa e o Serviço de Informações e Segurança do Estado. As esposas destes senhores que estavam na criação e no conceito deste endividamento onde estão?”, perguntou Ângela Leão ao juiz da causa Efigénio Baptista.

Nas alegações que leu no primeiro dia do julgamento, em 23 de Agosto, o Ministério Público acusou um total de 19 arguidos das ‘dívidas ocultas’ de se terem associado em “quadrilha”.

A conduta dos 19 arguidos, prosseguiu, delapidou o Estado moçambicano em USD 2,7 mil milhões – valor apontado pelo Ministério Público e superior aos USD 2,2 milhões até agora conhecidos no caso – angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.

Para o Ministério Público moçambicano, entre os diversos crimes que os arguidos cometeram incluem-se associação para delinquir, tráfico de influência, corrupção passiva para ato ilícito, branqueamento de capitais, peculato, abuso de cargo ou função e falsificação de documentos.

As ‘dívidas ocultas’ foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.

Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo do partido Frelimo, liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.

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