O cinismo do Ocidente
O cinismo do Ocidente – A guerra, ora em curso, que a Rússia move contra a Ucrânia, é produto da política hegemónica seguida pela NATO – Organização do Atlântico Norte – uma aliança militar dos países da Europa Ocidental e, em particular, pelos Estados Unidos da América, EUA.
A Ucrânia não se pode considerar vítima de agressão por ter sido ela própria a convidar ou, pelo menos, a aceitar que os EUA, país que vem desencadeando guerras de agressão, por todo o mundo, venham a instalar mísseis com ogivas nucleares, no seu país, colocando, assim, a sobrevivência da Rússia e do seu povo. Essa atitude não pode ser sustentada na chamada soberania nacional.
Nenhuma soberania deve ser tolerada quando coloca em perigo a soberania e sobrevivência de outros povos e estados. A atitude da Ucrânia compara-se a um vizinho louco que pretende atear fogo à casa do seu vizinho. Isso é inaceitável. A Ucrânia ainda vai pagar pelo seu erro de avaliação.
Os sedutores – EUA e a sua NATO – que tudo lhe haviam prometido para o que der e vier. Agora, a Ucrânia está em chamas. Os amigos que lhe prometiam fundos e mundos assistem o avanço das forças russas, a sua população a ser desbaratada e a sua economia posta à prova de guerra.
A Ucrânia é um país grande, sua gente é laboriosa e inteligente que poderia ter evitado que o seu país mergulhasse numa guerra sem sentido. Os ucranianos ficarão a perder muitas oportunidades e sangue dos seus filhos está sendo derramado de graça devido à miopia dos seus políticos que se deixaram levar por falsas promessas da NATO e dos EUA. Eles sabiam que a Rússia não havia de aceitar que a NATO montasse mísseis com ogivas nucleares junto à sua fronteira e se desse um passo em frente, cairia em guerra. Isso não era segredo. Kiev sabia que a sua teimosia poderia dar em guerra. Os cálculos mal feitos conduziram o país a uma guerra sem proveito.
A História diz que, em 1962, a antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) instalou no território cubano mísseis com ogivas nucleares e os EUA protestaram e aquilo poderia levar o mundo a uma provável terceira guerra mundial de consequências catastróficas para a humanidade inteira. Os EUA protestavam que os mísseis soviéticos instalados em Cuba punham em perigo a sua soberania e sobrevivência. O presidente John Kennedy, dos EUA, e o primeiro-ministro Nikita Krushev, da URSS, decidiram pela paz.
A URSS retirou os mísseis de Cuba e os EUA retiraram os seus mísseis que havia colocado na Turquia. Só assim a paz e a tranquilidade voltaram a dominar no seio das nações. Nenhuma das superpotências (Rússia e EUA) pode tolerar conviver com mísseis virados contra si. A Ucrânia deveria ter aprendido esta lição antes que fosse fustigada. Este sacrifício poderia ter sido evitado se os políticos fossem suficientemente astutos.
Lamentamos o cinismo do Ocidente que se levantou, em peso, contra a invasão e decretou sanções económicas e até desportivas.
Assim deveria ser contra todos os invasores e agressores, porém, assistimos que o Ocidente tem dois pesos e suas medidas. Os EUA e a sua NATO invadiram o Iraque, derrubaram o seu governo e mataram o presidente Saddam Hussein. Ninguém pôs o problema de soberania do povo iraquiano. Vimos a Líbia a ser invadida, o seu governo a ser a ser preso o presidente Muhamar Khaddaf a ser caçado como se fosse um cachorro raivoso. Ninguém falou da soberania do povo líbio.
Cuba está a definhar devido ao bloqueio económico que dura mais de 60 anos por ser irreverente aos desígnios dos EUA. O Ocidental mantém-se calado e mudo como se nada de anormal estivesse a acontecer. Cuba não tem o direito de escolher o sistema político para si? Outros povos e países não têm o direito à soberania de escolha? Apenas a Ucrânia tem o direito de escolher o seu destino e seus amigos enquanto outros não o podem fazer. A isso se chama hipocrisia mundial.
Alguém ainda se lembra de que, em Dezembro de 1989, o presidente do Panamá, Manuel Noriega, foi captura no seu país pelas forças norte-americanas, mesmo quando esse se havia refugiado na embaixada do Vaticano? Quem não respeita a soberania de outros povos? Precisamos de redefinir o conceito de soberania! A lista dos países agredidos pelos EUA é demasiada longa para caber numa folha como esta.
Apreciamos a neutralidade do governo de Moçambique. Aplaudimos quando está em seus raros momentos de lucidez. (O cinismo do Ocidente)
EDWIN HOUNNOU (jornalista e analista moçambicano)
Este artigo foi publicado intitulado “O cinismo do Ocidente” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 17 de Março de 2022, na rubrica EDITORIAL.
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