Vivências de outro tempo

Vivências de outro tempo – Obrigado Refinaldo por ter me acolhido no seu jornal Redactor como cronista e articulista. O senhor é combatente resiliente.

Sempre aprecei o seu jornal quando começou e chamava-se Correio da manhã, abordando basicamente assuntos de Economia.

Espero não desapontar os seus leitores, uma vez que não tenho experiência de escrever crónicas ou artigos de análise para jornais.

Tenho alguma experiência acumulada na radiodifusão como escritor de notícias (hard news) correntes.

No seu jornal, entro com a rubrica semanal VIVÊNCIAS DE OUTRO TEMPO. Vou abordar um pouco de tudo, desde assuntos políticos, sociais e económicos, que são essencialmente da minha praça como jornalista no activo há 34 anos. 

Outro Tempo pode ser hoje, ontem ou anteontem; esta semana, semana passada, ano passado; este século, século passado e etc.

Há duas semanas, fui à província de Inhambane em visita particular para uma cerimónia familiar chamada “Mhamba” – que significa missa em língua citswa falada em Massinga.

Foi um evento sociocultural de outro tempo praticado por famílias africanas. Mhamba é solicitada a alguém ou a alguns membros de uma família por seus ancestrais que podem ser pais, avôs ou bisavôs. Um determinado ancestral pede galinha, cabra ou cabrito a um seu filho ou filha. Os sinais de pedido são vários. Podem ser em forma de atribulações na vida do indivíduo em causa.

Uma das imagens que geralmente caracterizam uma “mhamba”

O animal é sacrificado por alguém homem ou mulher em público.

Enquanto corta o pescoço do animal vai falando do nome de ancestral que pediu a carne. Depois de cortar o pescoço larga o animal, particularmente galinha ou galo, para rebolar até sucumbir. Enquanto o animal rebola de agonia, ele ou ela vai falando em voz alta pedindo boa saúde, paz, sorte, produção de alimentos, oportunidades de emprego para si ou para seus filhos e outros familiares mais próximos.

Outros mais velhos e experiências da família e da aldeia acompanham tudo sobretudo o reboliço da ave sacrificada. Quando o animal pára os movimentos, já morto, os mais velhos analisam o lado pelo qual cai inanimado. Se estiver deitado de costas e ou de peito significa que não morreu bem e alguma coisa pode não estar bem. O ancestral não recebeu bem a carne solicitada ao seu familiar.

No entanto, o ritual não pode ser repetido sem fazer novas consultas a um adivinhador que usa ossos de diversos animais, incluindo de cágado, devidamente seleccionados para interpretar fenómenos relacionados com espiritualidade de origem africana.

Nos primórdios da independência nacional, a Frelimo tentou combater algumas práticas que considerava obscurantistas, mas perdeu a batalha, pois as populações nunca deixaram de usar curandeiros até porque hoje, praticantes de medicina moderna reconhecem publicamente que a medicina moderna cobre apenas 40 por cento da população moçambicana estimada em 30 milhões de habitantes, pelo que o resto é coberto pela medicina natural africana. África deve de ser estudada e não diabolizada.

Sou moçambicano originário, ou seja, negro – como dizia António Palange, médico que tentou sem grande sucesso fazer política durante a época da euforia da introdução de multipartidarismo em Moçambique com apoio de Trust Fund, das Nações Unidas. (Vivências de outro tempo)

SIMIÃO PONGUANE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 06 de Abril de 2022, na nova rubrica este jornalista senior SIMIÃO PONGUANE passará a assinar às quartas-feiras, juntamente denominada VIVÊNCIAS DE OUTRO TEMPO.

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Redactor favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz 

Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais ou pagando pelo paypal associado ao refinaldo@gmail.com.

Gratos pela preferência

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