Maputo a meio-gás

Maputo a meio-gás – O receio de agitação nas ruas deixou a capital moçambicana a meio-as e os acessos ao centro de Maputo sob forte vigilância policial, após a circulação de mensagens convocando um protesto contra o aumento do custo de vida.

Se fosse um dia normal, a entrada do mercado grossista do Zimpeto apresentaria um aglomerado de pessoas dispostas a vender e comprar produtos variados, num clima de desordem, mas que é a base do sustento de muitas famílias pobres dos bairros dos subúrbios da capital moçambicana.

Contra o habitual, hoje, o dia previsto para a manifestação convocada através de mensagens anónimas nas redes sociais, os principais centros tinham poucos comerciantes e compradores e, desde bem cedo, as ruas começaram a ser percorridas por blindados da Unidade da Intervenção Rápida (força antimotim) e outro tipo de forças policiais.

O receio de um motim, à semelhança dos que ocorreram em 2008 e 2010, associado à forte presença policial, fez com que muitas pessoas ficassem em casa, deixando a capital nas primeiras horas quase que às moscas, à semelhança de outros pontos, que mantinha a serenidade típica de um domingo.

Mas para os que dependem da rua para sobreviver, ficar em casa não foi opção, mesmo num dia tenso.

“Eu tive de sair para vender, de forma a obter dinheiro para ter comida para minha família. Se eu ficasse em casa, por exemplo, por um mês, como é que eu iria sustentar as crianças”, questionou Quilizarda Ngove, uma comerciante informal que vende produtos à porta do mercado grossista do Zimpeto.

Além dos vendedores informais, quem também teve de vencer o medo e fazer-se às ruas são os estudantes e profissionais de saúde, mas, com o receio de agitações, vários transportadores preferiram deixar as suas viaturas em casa, dificultando a mobilidade um pouco por todo o lado.

“Eu decidi sair porque o setor onde estou não pode ficar desleixado e, se alguma coisa estivesse a acontecer, o meu plano era voltar para casa […] Eu acho que a manifestação seria justa porque é uma luta pelos nossos direitos, mas não podemos agredir uns aos outros”, declarou Eva Mandlate, uma estudante do curso de saúde maternoinfantil que ficou horas na paragem do Zimpeto à espera de um transporte que a deixasse o mais próximo possível da sua instituição de ensino.

Não muito longe de Zimpeto, na Praça dos Combatentes, situada às portas do famoso mercado de Xiquelene, na periferia de Maputo, a vida também seguia a meio-as, entre o desespero de quem procurava transporte para chegar ao seu destino e o semblante sério das forças policiais que tomaram o local nas primeiras horas do dia com armas e cães.

Em pelo menos três bairros (Luís Cabral, Zimpeto e Manduca) algumas pessoas queimaram pneus e tentaram bloquear as estradas, mas os poucos episódios que podiam provocar alguma agitação foram de imediato travados pela polícia.

“Não nos sentimos à vontade, porque praticamente nos estão a ameaçar”, disse à Lusa Amélia Pedro, uma residente do bairro Luís Cabral, momentos após a polícia dispersar um grupo de populares que se juntava na estada que liga as cidades de Maputo e Matola.

Segundo o porta-voz do comando-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Orlando Modumane, foram registados pelo menos cinco focos de desordem pública, nos quais pessoas não identificados atearam fogo a pneus e arremessaram pedras para a via pública, mas nenhum dos episódios foi grave.

“A situação no país está controlada nas principais cidades”, frisou o porta-voz da PRM, citado pela Televisão de Moçambique.

Em 2008 e 2010, o aumento do preço de transporte rodoviário, acompanhado do agravamento do custo dos bens e serviços essenciais, gerou revoltas populares nalgumas das principais cidades do país, resultando em confrontos com a polícia e destruição em alguns locais. (Maputo a meio-gás)

Redactor

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