Urge combater desinformação
Urge combater – O mundo tem que unir esforços para combater a desinformação que continua a dificultar a aderência aos produtos de risco reduzido no consumo de tabaco. Esta ideia foi defendida no dia 11 de Outubro, durante uma sessão virtual sobre o impacto da desinformação nos esforços de luta contra os danos resultantes do consumo do tabaco
Tendai Mhizha, ligada à organização “Integra Africa”, abordou a problemática da literacia noticiosa denunciando a desinformação, a qual descreveu como a acção de compartilhar deliberadamente informações tendenciosas ou enganosas, com a intenção de manipular ou distorcer certos eventos ou fenómenos, enquanto que a informação falsa é partilhada sem qualquer intenção maldosa.
São fenómenos que, segundo ela, não são necessariamente novos, mas que as tecnologias e plataformas que agora conectam bilhões de pessoas em todo o mundo permitem a sua criação e rápida disseminação.
Mhizha acrescentou que a rápida evolução tecnológica tornou a informação mais acessível e compartilhável, aumentando a velocidade com que as mentiras podem se espalhar, levando ao declínio da confiança em especialistas e instituições. Trata-se, segundo ela, de um problema global que tem afectado o debate sobre várias questões no mundo, com repercussões comportamentais, sociais e políticas.
Mhizha entende que a crescente escala da ameaça representada pelo que chama de “flagelo da desinformação e informação falsa” pode ser vista na política, na saúde, no meio ambiente e na tecnologia, mas também em outras áreas na sociedade. Precisou que ambos podem corroer a confiança e credibilidade nas instituições públicas, exacerbar conflitos de classe; fomentar o medo e o ódio; influenciar a opinião pública; encorajar actores hostis e até colocar em risco a própria democracia.
De acordo com Mhizha, a distribuição intencional de informações falsas, com a intenção de atingir certos objectivos, teve um impacto negativo em todos os continentes. África, assinalou, tem sido um alvo cada vez mais frequente de campanhas de desinformação, referindo que, nos últimos anos, dezenas de campanhas cuidadosamente projectadas injectaram milhões de publicações deliberadamente falsas e enganosas em espaços sociais online do continente. Destacou a Rússia como o grande financiador do que chamou de campanhas “anti-democráticas”, em vários países do continente africano, incluindo Moçambique.
“A confusão que se seguiu em separar o facto da ficção teve um efeito corrosivo sobre a confiança social, o pensamento crítico e a capacidade dos cidadãos de se engajarem na política de forma justa – a força vital de uma democracia em funcionamento”, argumentou.
Desinformação e nicotina
De acordo com Mhizha, a desinformação não se limita a eleições, mas também atinge outros sectores, desde difamação pessoal, informação sobre vendas, e até em questões como a actual invasão da Rússia à Ucrânia, a pandemia da Covid 19, incluindo as vacinas, bem como sobre o tabaco. E era mesmo sobre o tabaco que Mhizha queria se ocupar na sua apresentação.
Nem mais. Segundo ela, tem havido muita desinformação em torno do tema da nicotina e de supostos efeitos negativos que os cigarros electrónicos têm no organismo humano. “Isso tem levado à tomada de decisões políticas que desfavorecem produtos de redução de danos e a discussões que negam os seus benefícios”, lamentou.
Inclusivamente, avançou, muitos governos, em todo o mundo, estão a regulamentar sobre produtos de redução de danos de forma desproporcional aos riscos a eles associados, às vezes ignorando a ciência.
“Em países como a Índia e Austrália, políticas governamentais são mais antagónicas em relação aos produtos de redução de danos do que em relação ao cigarro”, observou, acrescentando que é preciso combater a desinformação para proteger os esforços em prol da redução dos danos do tabaco.
Para Mhizha, uma das maneiras de combater a desinformação no que diz respeito aos produtos de redução de risco é investir em estudos sobre a eficácia das políticas. Deu exemplo da União Europeia, que já está a explorar diferentes formas para o estabelecimento de estruturas legais e reguladoras para eliminar ou evitar que a desinformação sobre o assunto se espalhe até ao nível de influenciar políticas governamentais.
Mas o jornalismo local e as Organizações da Sociedade Civil (OSC), prosseguiu, também podem desempenhar um papel fundamental no apoio à verificação de factos, literacia mediática e disseminação de informações precisas a um nível mais local.
“Vimos que os esforços para impedir a disseminação de desinformação ao nível local podem ser úteis em comunidades onde essas organizações têm credibilidade e estão enraizadas no ecossistema local. É neste nível que jornalistas locais e OSCs podem se tornar nos transmissores da verdade e impulsionadores da correção de informações falsas”, desafiou.
Entende que, como 4º poder, o jornalismo, tem de encontrar caminhos para combater a desinformação através da colocação de informação credível. Mas, sublinhou, da mesma forma que as lideranças dos meios de comunicação precisam ser convencidas a investir nesses esforços de longo prazo, que ajudarão combater a desinformação e a informação falsa, as lideranças comunitárias também podem usar as suas plataformas para corrigir ou restaurar a confiança com pessoas vítimas de desinformação.
“Precisamos alavancar agentes confiáveis (mensageiros locais) e instituições confiáveis (por exemplo, organizações religiosas) dentro da comunidade para gerar confiança, construir relacionamento e criar um terreno comum”, acrescentou.
Além dos esforços de governos e organizações da sociedade civil, referiu que a comunidade científica tem o papel de estabelecer um padrão para a produção de informações confiáveis e baseadas em evidências, citando pesquisas que demonstraram que os cientistas são os líderes mais confiáveis da comunidade e classificados acima de líderes governamentais.
“A ciência pode ser o oponente mais forte da desinformação e da desconfiança”, disse, acrescentando que indústrias como a de tabaco enfrentam resistência ideológica, inclusive de autoridades nacionais e internacionais.
Mas, continuou, “o público tem o direito a uma tomada de decisão informada, que deve ser baseada na ciência clara”. Aqui, Tendai Mhizha defendeu a necessidade de se despolitizar os factos e a ciência e se afastar dogmas. Mas, para ela, as estratégias para a mitigar a desinformação passam, também, por desenvolver uma resposta autónoma por meio de educação e consciencialização e actualizar os limites da liberdade de expressão, enquanto se garante um mercado “aberto” de ideias.
“Não podemos fazer a caminhada sozinhos” – PMI
Por sua vez, Tommaso Di Giovanni, responsável pela área de activação e suporte de mercado, na Philip Morris International (PMI), um dos gigantes do sector, lamentou a forma como a propagação da desinformação tem levado pessoas a acreditarem, por exemplo, que nicotina é uma das principais causas de doenças. Falou de vários países, incluindo grandes potências como os Estados Unidos da América e o Reino Unido, que reconheceram os produtos de risco reduzido como alternativas seguras para combater a fumaça.
Segundo Tommaso Di Giovanni, a indústria tem estado a fazer o seu papel na redução de danos associados ao consumo do tabaco. Disse que a PMI colocou avultadas somas de dinheiro para os esforços de redução de danos de tabaco. Também falou do caso da Suécia, citando o Snus, produto de risco reduzido que se tornou popular naquele país nórdico, como um exemplo da transição de fumaça para o mundo livre do fumo.
Estatísticas apresentadas por aquele representante da PMI indicam que há, no mundo, mais de 1 bilhão de fumantes que devem ser encorajados a parar de fumar. “Mas, para aqueles fumantes adultos que, de outra forma, continuarão a fumar, queremos providenciar-lhes o acesso e informação sobre alternativas livres do fumo”, afirmou a fonte, enfatizando que essa “é a melhor coisa a fazer”.
Também na sua apresentação, demostrou, de forma cronológica, as diferentes fases do engajamento da PMI na procura de alternativas ao tabaco, apoiando-se na pesquisa para a disponibilização de produtos mais saudáveis. “Queremos responder uma solicitação da sociedade para a mudança, a fornecer um futuro melhor, livre da fumaça”, acrescentou, indicando que “para tornar a nossa visão uma realidade, estamos a transformar todo o nosso negócio em linha com produtos livres do fumo”.
Di Giovanni fez questão de citar o antigo CEO da PMI, André Calantzopoulos quando anunciou, em 2016, a missão pioneira da firma: “nossa ambição é convencer todos os actuais fumantes adultos que pretendem continuar a fumar a transitarem para produtos livres da fumaça, o quanto cedo possível”.
Mas, de acordo com Di Giovanni, a indústria não pode caminhar sozinha. “Com a combinação certa de liderança governamental e apoio da saúde pública e sociedade civil, podemos mais rapidamente atingir um marco significativo na saúde global: mundo sem cigarro”, apontou, aludindo, também, ao apoio que os media podem desempenhar, fornecendo informação correcta. Tommaso Di Giovanni também enfatizou que a melhor solução é parar de fumar, mas reconheceu que há, em todo o mundo, milhões de pessoas que não conseguem parar, pelo que devem ter acesso aos produtos de risco reduzido.
Por sua vez, Harouna Ly, igualmente da PMI, onde dirige a área de Assuntos Externos, repisou a necessidade de se criar um ambiente propício para acabar com a fumaça. Para Ly, hoje, a ciência e a tecnologia devem servir para dar informação factual, também sublinhando que a acessibilidade dos produtos de risco reduzido deve ser um ponto importante.
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