A conferência dos animais
Havia um reino governado, há milénios e milénios, por um grande rei, Sua Majestade Leopardo Da Selva, considerado naquele tempo o rei do reino da floresta. Aquele rei era muito conhecido diante do povo animal daquela selva pela sua sumptuosidade, esplendor dos seus olhos, sorriso enganoso e grande habilidade de realizar visitas-surpresa ao povo animal. Todos temiam-no de maneira que ninguém ousava falar-lhe frontalmente.
Ao longo dos anos, surgiram vários animais críticos à liderança do rei. Por esta razão, aqueles atrevidos animais eram imediatamente aniquilados pela ordem do rei receando desenvolver pensamentos revolucionários que aos seus olhos constituíam conspiração à sua governação.
O povo animal daquele reino padecia de vários problemas, tais como: a fome, a sede, a falta de liberdade de expressão, em suma, vivia numa pobreza absoluta. Os animais não tinham o direito de ir à caça e nem sequer ir de qualquer maneira aos rios para ter a singela oportunidade de se dessedentar porque o uso de todos os recursos daquela selva era monitorado pelo palácio do grande rei, o senhor Leopardo Da Selva.
Fartos de abuso do poder e por várias outras razões, coligaram-se alguns animais fervorosos e visionários da liberdade e governação democrática na selva. Os seus ideais estavam ajustados aos de outros animais que ao longo dos anos almejavam o bem-estar do povo animal daquele reino, mas que não tinham como iniciar a luta.
A associação dos animais revolucionários compreendia que a união faria a força, ou seja, a luta de forma individual não permitiria que alcançassem a vitória para o povo. Entretanto, também compreendiam o risco da luta.
Os membros do movimento revolucionário animal anteviam que a luta seria bastante serena e que exigiria uma força robusta e inexpugnável, por isso elegeram para liderar aquela agremiação revolucionária o Chimpanzé, um animal negro com uma visão que era considerada sisuda pelos animais daquele reino.
Num certo dia, e na calada da noite, em reunião com outros animais revolucionários, o Chimpanzé disse:
– Caros companheiros, conforme sabeis, estamos a ser governados duma forma imprudente, e verdadeiramente ingénua. A partir de hoje, peço a união de todos em defesa do nosso pensamento. Queremos exigir ao Rei que haja eleições para determinar quem deve guiar o povo. Queremos um Presidente e não mais um Rei. E queremos que a governação seja limitada num intervalo de tempo em que todos concordem. Já basta a ditadura, já basta o sofrimento do povo neste reino. Eu darei a minha cara por todos vós e peço que cada um de vós dê a sua força e total entrega por esta causa!
Após o discurso, o povo animal ali presente aplaudiu e gritou como gesto de proclamar o Chimpanzé presidente daquela selva. Devido à coragem e determinação instruída pelo líder revolucionário Chimpanzé, o grupo contra o rei atacou o palácio do rei Leopardo Da Selva e fez de reféns os seus agentes de segurança. Aos resistentes, os invasores esquartejaram-nos lacerando os seus corpos para não prover a segurança e todo o tipo de recursos ao rei. Vislumbrou-se a queda milenar do reino. E era uma acção que o rei Leopardo nunca sonhara acontecer.
Estando na iminência da queda do seu reino, o rei Leopardo convocou uma conferência extraordinária dos animais, donde iria admitir pela primeira vez a realização de eleições na selva. Achando-se desamparado porque se via sem os seus agentes de segurança, o rei Leopardo pediu ao Chimpanzé, seu opositor, que chegassem a um acordo sobre a restauração da paz no reino que permitisse a sua continuidade na liderança.
As selvas vizinhas, quando se aperceberam da guerra contra o reino do Leopardo, tentaram envidar esforços em apoio diverso incluindo alimentar às vítimas de guerra para promover a imagem do rei Leopardo.
Entretanto, reunidos em conferência convocada pelo rei Leopardo, os animais daquela selva constataram que o rei não se tinha feito presente e, consequentemente, consideraram o Chimpanzé vencedor da luta, pelo que passou a ser presidente daquela selva.
PS: Caro amigo leitor, o poder é bom, mas quando as coisas ficam saturadas e desgastadas, é importante introduzir e promover uma reforma quer seja total ou parcial. Não deixe que as coisas desmoronem sob o seu olhar indiferente, quer seja nos lares ou nos partidos políticos ou ainda nas congregações religiosas e outros locais: previna-se do desgaste do seu poder.
(Continua!)
Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 12 de Abril de 2024, na rubrica OPINIÃO.
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