MISS pode tornar-se na primeira líder da Renamo
MISS (Maria Ivone Soares Selemane), uma das seis figuras que concorrem à presidência da Renamo, pode tornar-se na primeira mulher a liderar a Resistência Nacional Moçambicana, o segundo maior partido político de Moçambique, tendo em conta os resultados oficiais eleitorais ciclicamente produzidos no país.
MISS tem como principal vantagem o facto de ser jovem [35 anos de idade] e ser a única mulher na corrida. São estes os atributos que a colocam com potencial para atrair o apoio das mulheres e das camadas juvenis de membros simpatizantes da Renamo que irá a eleições legislativas e presidenciais em Outubro deste 2024.
A também sobrinha de Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o falecido e carismático líder da Renamo, poderá vir a se beneficiar de um provável afastamento da candidatura de Venâncio António Bila Mondlane (50 anos de idade) por não reunir os requisitos do perfil a candidato traçados no decurso da mais recente reunião do Conselho Nacional da “perdiz” realizada a 14 de Abril de 2024 na cidade de Maputo.
No entanto, Mondlane ainda não “atirou a toalha ao chão” e desdobra-se em campanhas múltiplas e determinado a escalar a vila-sede de Alto Molócuè, que vai acolher o VII Congresso da Renamo nos dias 15 e 16 deste Maio.
Observadores mais atentos sempre acreditaram que MISS tenciona[va], mais cedo ou mais tarde concorrer à presidência da Renamo. Após a morte do tio, conheceu momentos de “travessia do deserto” e não encontrou algum amparo da liderança partidária quando a sua residência foi alvo de buscas policiais jamais esclarecidas, devidamente.
Concorrem ainda como elementos favoráveis a MISS o facto de militar no partido desde os 18 anos, já ter sido presidente da liga juvenil, membro da Comissão Política Nacional (CPN), chefe da bancada parlamentar entre 2015-2021 e deputada há 12 anos, delegada provincial ou distrital, entre outros.
O programa eleitoral apresentado há dias por esta mulher licenciada em Ciências de Comunicação e doutoranda em Ciência Política e Relações Internacionais propõe reestruturar o partido, abrindo-o à sociedade civil.
Brilhante agitadora e dona de uma oratória invejável, MISS poderá vir a beneficiar de algumas desistências expectáveis à última hora por parte de alguns concorrentes e do apoio de figuras de proa no seio da Renamo, incluindo o do combativo Manuel Alculete Lopes de Araújo, actual autarca de Quelimane, seu cunhado.
Com o provável afastamento de Venâncio Mondlane da corrida à liderança da Renamo, outra figura que pode dar luta séria ao actual líder, Ossumo Momade, é Elias Marceta Dhlakama, de 55 anos, irmão mais novo do falecido Afonso Dhlakama, que ficou em segundo lugar no congresso de Janeiro de 2019 em Gorongosa, província central moçambicana de Sofala.
Antigo guerrilheiro da Renamo, Elias Dhlakama é militar de carreira. Foi chefe da contra-inteligência militar durante a guerrilha na zona Norte de Moçambique (cobrindo Cabo Delgado, Niassa, Nampula e Zambézia), comandante da Base Central da Zona Norte e comandante do Centro de Acantonamento na província da Zambézia com 5000 combatentes da “perdiz”.
No âmbito do Acordo Geral de Paz de Roma, Itália, em 1994, Elias Dhlakama foi parte de alguns guerrilheiros da Renamo integrados nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), tendo frequentado um curso de comando e direcção.
Em 1998, foi nomeado chefe do Estado-Maior da Região Militar Norte, que compreendia as províncias do Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia, exercendo em 2015 o cargo de comandante dos Reservistas das FADM.
Em 2018, Elias Dhlakama pediu a passagem à reserva, alegando “motivos pessoais”, sendo desde então deputado da Assembleia da República pela bancada parlamentar Renamo. Ele e MISS poderão, em cima da hora, em Alto Molócuè, unir esforços, de acordo com observadores políticos habilitados.
Impopular e muito pobre em oratória e com profundas dificuldades em acompanhar as expectativas dos apoiantes da Renamo, Ossufo Momade cedo revelou-se um brilhante erro de casting no processo de sucessão de Afonso Dhlakama e continua a ensombrar a actual liderança do maior partido na oposição em Moçambique.
Ossufo Momade é, aos olhos de muitos, dócil ao regime na abordagem de diversos dossiers, sendo ainda acusado por alguns militantes da Renamo de falta de diálogo interno, de marginalização da ala “renovadora”.
Antes das manifestações de Venâncio Mondlane, a expressão mais alta da sua contestação interna pontificou com a emergência do grupo de protesto que ficou conhecido como “Junta Militar”, encabeçada por Mariano Nhongo Chissingue (Redactor N.° 6172, págs. 1 e 2).
A postura de Ossufo Momade perante os resultados eleitorais do pleito pelas autarquias em Outubro de 2023, por muitos observadores considerado como caracterizado por uma fraude maciça, avolumou o tom de descontentamento em diversos sectores da sociedade moçambicana, incluindo os não filiados à Renamo.
Outra saída para minimizar estragos no seio da Renamo, segundo algumas fontes, pode passar por um “arranjo” na base do qual Ossufo Momade permanece na liderança da Renamo – tranquilizando deste modo um certo sector castrense e uma larga fasquia de votantes macuas [maioritários à escala nacional] – e MISS concorrer por este partido à Presidência da República de Moçambique.
Todavia, em mensagem disseminada através das redes sociais, MISS diz não haver espaço para recuo e alerta para as pessoas não se deixarem levar por “montagens, mentiras e intrigas” porque, sublinha, “nunca entrei num desafio para desistir”.
Os outros concorrentes à liderança da Renamo (Redactor N. 6813, pág. 3) são, aos olhos de muitos, simples “fauna acompanhante”, com quase nulas hipóteses de vitória. Até sábado se saberá qual a sorte da Renamo, sendo convicção de muitos de que uma eventual manutenção de Ossufo Momade em se candidatar a Presidente da República de Moçambique apenas servirá para o averbamento do pior resultado eleitoral registado pelo partido que teve como génese um movimento guerrilheiro fundado por André Matade Matsangaissa (18 de Março de 1950-18 de Outubro de 1979).
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Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 14 de Maio de 2024.
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