As tarifas, o problema está com as operadoras?

Esta é uma pergunta de que se espera muita resposta. É uma curiosidade que chega a deixar cair os cidadãos numa depressão profunda. Cada um com o seu celular vive esperançado e alegre com a expectativa de que um dia voltará a sorrir.

Mas também sabemos que relacionamento quebrado, mesmo que as pessoas se reconciliem, não volta a ser o mesmo. O que está acontecendo com esta novela toda?

Lembro-me da novela do Mbappé com o Real Madrid que levou mais de cinco anos, mas ela teve um fim alegre. Não sei se a essa novela das tarifas chamaremos de mexicana, turca ou moça-maconde. Mas de novela sabemos que se trata e é uma novela barata, oca e violenta psicologicamente. 

O que houve aqui em relação às tarifas? Neste país tudo é possível, primeiro, não se respeitam as leis, começando pelo mais alto magistrado da nação. As leis aqui são para os pobres e não para todos. Não há lei que pune o rico neste país.

Se a lei funcionasse, a Procuradoria-Geral da República (PGR) teria intimado as operadoras a prestarem declarações ao tribunal em defesa do povo e da lei do consumidor. Ou seja, é coisa de dizer que todos são titica do mesmo fiofó.

Segundo: eles sentaram com as operadoras e ao Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM) disseram o seguinte: nós lá no Conselho de Ministros vamos simular revogar esse decreto e o INCM vai demorar um pouco para acatar e, por sua vez, vocês, operadoras, não mudem nada. E estaremos vos amparando. Isso chama-se de teoria de mordedura do rato. 

O rato morde e sopra. Sendo ano eleitoral e sabemos que aquele partido vive da pressão das empresas e o dinheiro do agravamento das tarifas servirá para apoiar a campanha deles. Podemos, sim, esperar alguma mudança, mas não significativa. 

O problema aqui não está com as operadoras. Que operadora teria coragem de desacatar a lei? Quem iria mandar fumar ordens do Presidente? Quem não se alinharia com as decisões do Conselho de Ministros? Meus irmãos, eles disseram às operadoras:

– Aconselhem os clientes a esperarem com calma.

Mais uma vez, o problema não está com as operadoras, está com o Governo que orientou as operadoras a não voltarem para as tarifas anteriores.

Eles escrevem bem, lêem bem, mas são incivis na implementação. Enquanto não houver separação de poderes, não teremos paz e nem mudança no país. O que espera a PGR para actuar em defesa do povo?

Ela não actuará justamente porque também recebe ordens superiores, vive das mesmas ordens e sustenta-se dessas ordens. Como ultrapassar isso? Lutando em conjunto pela descolonização mental.

Neste país, os dirigentes são os que mais violam as leis e não se importam com nada e em nada. São eles que desestruturaram o país e deixaram-no na lama. Não esperemos nada deles, cada um onde estiver deve meter queixa contra as operadoras e a Ordem dos Advogados de Moçambique deve ajudar os moçambicanos nesse quesito. Estamos abandonados na mata dentro. Quem nos acudirá?

Meus irmãos, o próximo passo é ligar para a Ordem dos Advogados para pedir orientação e, se a PGR não fizer nada, intimemo-la também contra a defesa de malandros. 

Portanto, neste problema das tarifas, as operadoras recebem ordens superiores todos os dias e podemos crucificá-las, pois é o rosto mais visível, porém, por detrás delas, há tubarões que pressionam. Agora, entre acatar a população e os “boisses”, preferem ouvir os “boisses”. 

A última mensagem do Governo em surdina é: “vocês, população, não são nada e não vai acontecer nada aqui”.

Eles é que fazem e eles é que fizeram.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 12 de Junho de 2024.

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