Chimoio: da Vila Pery ao Pequeno Coração corrompido

Há 55 anos, Chimoio, outrora conhecida como Vila Pery durante o tempo colonial, recebeu a dignidade de ser elevada à categoria de cidade.

Chimoio, um nome que significa “pequeno coração” e que esta quarta-feira [17 de Julho] assinalou mais um aniversário da sua elevação à categoria de urbe, é hoje a quinta maior cidade de Moçambique, com pouco mais de 320 mil habitantes.

Esta cidade, que já foi aclamada como a mais limpa de Moçambique, encontra-se numa encruzilhada moral e administrativa sob a liderança do presidente do Conselho Municipal, João Ferreira.

Era uma vez, Chimoio brilhava com um esplendor que fazia jus ao seu nome. As suas ruas eram limpas, os seus habitantes orgulhosos e a cidade em si era um símbolo de ordem e progresso. No entanto, com a ascensão de João Ferreira, o pequeno coração começou a pulsar de maneira irregular. Ferreira aparentemente monopolizou e corrompeu a maior parte da imprensa local, transformando-a em um megafone para a sua propaganda pessoal.

Reza a lenda que os cinco anos sob a liderança de um dos presidentes de município mais populares em Moçambique têm sido uma masterclass de elitismo disfarçado de liderança. As áreas periféricas, onde a verdadeira essência de Chimoio reside, foram negligenciadas. Enquanto o centro urbano recebe investimentos e melhorias, as zonas afastadas são deixadas à própria sorte, sem infra-estrutura básica e enfrentando condições de vida cada vez mais precárias.

Aos olhos de muitos munícipes, os impostos são uma carga insuportável para os pequenos comerciantes e cidadãos de baixa renda. Esses tributos, em vez de retornarem em forma de benefícios para a população, são supostamente drenados em projectos que beneficiam apenas um selecto grupo de empreiteiros e empresários alinhados com a administração de Ferreira.

A colecta de lixo, que já foi um orgulho para a cidade, está em um estado lastimável. Os contentores desapareceram e a cidade, antes limpa, agora luta contra o lixo que se acumula.

E o que dizer da imprensa? Ah, a imprensa. Sob o controlo de Ferreira, tornou-se uma suposta marioneta dançando ao som do seu mestre. As matérias que exaltam as “realizações” do Conselho Municipal são abundantes, enquanto as críticas e a verdade são silenciadas. Um dos seus assessores de imprensa, não por coincidência, é também jornalista em uma das estações televisivas mais populares de Moçambique, garantindo que a narrativa pró-Ferreira seja a única ouvida.

A mudança em Chimoio é palpável e dolorosa. Empreiteiros e investidores, antes ávidos em contribuir para o desenvolvimento da cidade, agora vêem Chimoio como um terreno estéril, dominado por um suposto círculo de amigos de Ferreira que se beneficiam da corrupção institucionalizada. Qualquer tentativa de denunciar essa podridão é rapidamente abafada. Pedro Tawanda, jornalista da Gesom, foi ameaçado por expor irregularidades na feira, um exemplo claro de como a verdade é um bem precioso e perigoso naquele canto do globo.

A 17 de Julho de cada ano, Chimoio tem-se mergulhado nas profundezas dos sentimentos da nostalgia e melancolia, à procura de um lugar em que um dia esteve. Mas o tempo actual toma novos rumos, em resistência ao respeito às tradições da Cabeça do Velho (Monte Bengo), um símbolo sagrado e imponente. Hoje, construções desordenadas cercam o monte, desrespeitando a história e a espiritualidade do lugar. 

Contudo, nesta superfície textual, endereço a responsabilidade à juventude, nossa esperança para o futuro, que deve aprender a ouvir as batidas dissonantes deste pequeno coração e a encontrar nelas a verdade que precisa de ser dita. Não se pode embalsamar a verdade, ela deve ser nossa guia na luta por uma Chimoio justa e próspera. O espírito de Chimoio, com a sua resiliência e esperança, continua a buscar um equilíbrio entre tradição e modernidade, entre as promessas feitas e as promessas cumpridas. Neste cenário, a verdade deve ressoar com clareza no coração de cada chimoense. Feliz 17 de Julho!

Fortis Fortuna Adiuvat!

KELLY MWENDA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 18 de Julho de 2024.

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