Menu II

Menu II

Era uma vez um jovem que, convencido que estava cansado de comer o prato que o fizera crescer, resolveu ir a um restaurante experimentar novas iguarias que o empregado de mesa o convencera a saborear como sendo o melhor dos que o mercado da restauração oferecia. Inexperiente, o jovem refastelou-se com a novidade pantagruélica nova e desconhecida.

No dia seguinte, foi parar à “unidade sanitária mais próxima” para desintoxicação alimentar. Como expliquei na minha reflexão da semana anterior (Redactor N.° 6909, pág. 6), nem sempre a “xiguinha” com a qual estamos habituados terá de ser substituída por novas iguarias.

Algumas vezes os empregados de mesa propaladores de novos sabores, também eles não os conhecem, pois limitam-se a papaguear pratos bem-sucedidos fora das nossas fronteiras nacionais. Aqui, domesticamente, entre nós, os mesmos podem ter consequências contra-producentes. Ou menos bons resultados se estes forem, acidentalmente, positivos.
Mas o pior desta atitude irreflectida de alguns de nós, porque enganados com o poder de dizer do empregado de mesa, caímos no engano de pensar que o prato com o qual crescemos já não nos serve mais. Alguns dizem que o prato antigo só serve para ir para o lixo. Acrescentam onomatopaica e abusivamente, mesmo sem respeito, o sufixo “lixo” ao nome do restaurante antigo aonde sempre comeram e nele se fizeram gente.

Alguns críticos, sem terem estudado atentamente qualquer um dos menus, exigem que somente um dos representantes do restaurante, por sinal o mais experiente e antigo, apresente nesta fase o seu plano de bem servir os seus pratos. Outros até exigem dele o seu Plano Marshall. Isentando, sem plausível explicação, os outros de o apresentarem. Não é feita, portanto, a mesma exigência aos restantes três que ambicionam servir o seu prato.
A campanha eleitoral está ao rubro. Já está no seu quarto de tempo rumo ao seu ocaso. As eleições estão prestes a acontecer. A decisão eleitoralista está em iminência. O dia 9 de Outubro de 2024, está já aí prestes a chegar. Muitos deste nosso povo ainda não estudaram os menus de cada um dos candidatos a ser Chefe do nosso Estado. Depois, sendo já tarde, vamos, seguramente, ter saudades da “xiguinha” com a qual crescemos e nunca nos provocou quaisquer desarranjos de trânsito digestivo.
Os menus dos quatro candidatos a Presidente da nossa jovem República estão disponibilizados na internet e em formato físico na Comissão Nacional de Eleições. Que não tenhamos preguiça em estudá-los. A dor de uma má decisão é irreversível. Sofreremos vitaliciamente por uma escolha precipitada do prato a comermos nos próximos cinco anos. Mas o pior é que a nossa má decisão hoje repercutir-se-á de forma indelével e irreversível na vida dos nossos pentanetos e demais gerações subsequentes.
Não nego a legitimidade da mudança reclamada por algum extracto da nossa população potencialmente votante. Mas também receio e recomendo que em nome da mudança poderemos correr o risco de rumarmos para o abismo social colectivo. Diziam os nossos avós que o inferno está cheio de gente bem-intencionada! Quais as valências e as experiências dos agentes potencialmente protagonizadores de tais mudanças?

Tais mudanças terão de implicar necessariamente a troca emocional do actor! Este antigo servente de restaurante fossilizou? Mesmo reciclado ele estará incapaz de mudar para melhor? Aonde este novo empregado de mesa aprendeu a arte de bem servir? Que sociedade queremos construir votando, sem motivo, o velho empregado de mesa para o ostracismo ser retorno? Queremos, como George Orwell (escritor e jornalista britânico) o fez no seu romance intitulado “1984”, vaporizar tudo o que antigamente funcionou depois de 500 anos de colonialismo em que o tecido social moçambicano foi intencionalmente castrado?

Desejo de bom e sábio voto, meus queridos compatriotas! Talvez nos lembremos da “xiguinha” quando estivermos acamados na sala de cuidados intensivos algures num hospital com uma dolorosa intoxicação alimentar por termos experimentado novos pratos aparentemente bonitos e bem-prometidos, mas que não serão bem cozinhados por cozinheiros apenas dotados de bom verbo e pouca mão na panela.

ANTÓNIO MATABELE *

*   Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 27 de Setembro de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.

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