É melhor o pequeno Davi vivo do que o gigante Golias morto

Esta metáfora poderosa descreve a realidade da governação em Moçambique.

A metáfora diz que mesmo com recursos limitados e desafios profundos, um governo ou um sistema de governação que seja resiliente, focado em soluções práticas e orientado para o bem-estar da população tem mais valor do que uma estrutura de poder excessivamente centralizada, autoritária e ineficaz. A frase sugere que a força não está necessariamente no tamanho ou no poder bruto, mas sim na capacidade de adaptação, na sabedoria e na gestão eficaz dos recursos.

Moçambique tem enfrentado inúmeros desafios relacionados à governação, entre os quais se destacam a corrupção, a má gestão dos recursos naturais, o conflito armado e as tensões regionais. Embora o país tenha experimentado crescimento econômico em alguns momentos, impulsionado principalmente pela exploração de recursos naturais como gás e carvão, grande parte da população ainda enfrenta pobreza extrema e falta de acesso a serviços básicos.

A má gestão dos recursos e a falta de transparência na tomada de decisões são sintomas de uma governação que privilegia elites políticas e econômicas em detrimento da maioria da população. O escândalo das “dívidas ocultas”, que envolveu empréstimos secretos do governo moçambicano que resultaram em uma grave crise econômica, é um exemplo claro de como a falta de transparência e prestação de contas tem prejudicado o país. Nesse sentido, o gigante Golias pode ser visto como uma metáfora para um governo que tenta concentrar poder e riquezas nas mãos de poucos, mas que, no fim, fracassa por não atender às necessidades reais da nação.

Outro aspecto relevante é a governação centralizada. Moçambique, como muitos países africanos, herda uma tradição de centralização do poder em um governo nacional forte, em detrimento das instituições regionais e locais. Este modelo pode ser eficiente em termos de controle político, mas tende a alienar comunidades periféricas, especialmente em um país com a diversidade cultural e étnica que Moçambique apresenta. As regiões do Norte, por exemplo, têm vivido uma insurgência violenta com grupos “extremistas”, exacerbada por factores como exclusão social e econômica, corrupção e falta de desenvolvimento local.

Neste sentido, uma pequena governação, mais local, mais próxima das comunidades, poderia ser mais eficiente para lidar com as necessidades reais da população. Assim como Davi, uma abordagem mais humilde e descentralizada pode ser mais eficaz para enfrentar desafios complexos, ao invés de uma estrutura mastodôntica e ineficaz que se fragmenta diante de pressões internas e externas.

A corrupção é um dos principais problemas que minam a governação em Moçambique. Apesar de iniciativas voltadas à boa governação, o sistema político moçambicano frequentemente vê os recursos públicos como ferramentas para a manutenção do poder, ao invés de meios para melhorar as condições de vida da população. Instituições fracas e a falta de uma cultura de prestação de contas criam um ambiente onde a corrupção prospera.

Assim, mesmo com os recursos abundantes, como gás natural, Moçambique corre o risco de seguir o caminho de outras nações africanas presas à maldição dos recursos, onde a riqueza natural alimenta conflitos e desigualdade, ao invés de desenvolvimento sustentável. Nos próximos dias, moçambicanos preferirão fugir do país por razões de perseguição e falta de oportunidades para sua sobrevivência.

A metáfora de Davi contra Golias pode ser reinterpretada como uma luta constante entre a governação local, próxima do povo, que enfrenta o gigante da corrupção e do abuso de poder. Essa luta é fundamental para que Moçambique possa alcançar um modelo de governação mais inclusivo, transparente e eficaz.

Assim,Moçambique tem potencial para ser um exemplo de resiliência e crescimento sustentável, mas isso dependerá da capacidade de superar os desafios da má governação, da corrupção, do nepotismo, do abuso de poder e da sabotagem. Assim como Davi, o país precisará contar com sabedoria, pragmatismo e soluções criativas para derrotar o Golias da centralização do poder, da exclusão e da corrupção.

No fim, é preferível uma governação pequena, mas viva, que esteja conectada às necessidades da população e focada em desenvolvimento equitativo, do que um sistema gigantesco e ineficaz que não responde aos desafios reais do povo moçambicano. Chegou o tempo de moçambicanizar as mentes de patriotizar as ações.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 11 de Outubro de 2024.

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