Moçambique poderá se transformará num Haiti

A actual conjuntura de Moçambique, marcada por uma crescente instabilidade política e social, lembra, de forma alarmante, o cenário vivido pelo Haiti nas últimas décadas: um país à beira do colapso, minado pela violência, pobreza extrema, e repressão estatal.

Sob o domínio do partido FRELIMO, que governa Moçambique desde a independência, a situação tem se deteriorado rapidamente, com eleições contestadas, protestos reprimidos com brutalidade, e uma economia fragilizada.

Nas últimas semanas, o país tem sido palco de manifestações populares contra o governo, muitas delas motivadas por acusações de fraude nas eleições de outubro de 2024.

A população, cansada da corrupção, da falta de transparência e das promessas não cumpridas, tem saído às ruas em busca de respostas e por mudanças.

No entanto, a resposta do regime tem sido desproporcional. A polícia, frequentemente a mando directo da liderança da FRELIMO, tem utilizado de força bruta, armamento pesado e métodos intimidatórios para sufocar qualquer tentativa de insurgência civil.

Esse cenário de violência exacerbada é sintomático de um governo que perdeu a legitimidade perante o povo e que, para se manter no poder, aposta no uso da força em vez do diálogo.

Relatos de prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e tortura estão se tornando comuns, e a liberdade de expressão, antes garantida em teoria pela constituição, está sendo sistematicamente esmagada.

A mídia independente sofre constantes ameaças, e os jornalistas que ousam expor as falhas do regime são perseguidos ou silenciados.

O caso do Chamusse (jornalista) e do Dr. Elvino (advogado e activista dos direitos humanos) são recentes e gritantes.

A comparação com o Haiti surge porque o país caribenho também enfrentou, ao longo de décadas, uma combinação mortal de regimes autoritários, pobreza extrema e intervenção militar para esmagar a dissidência. Como o Haiti, Moçambique parece caminhar para um ciclo vicioso de violência, onde o governo, temendo a perda de poder, recorre cada vez mais a métodos despóticos, agravando as condições de vida da população e alimentando uma espiral de descontentamento.

A actuação desproporcional da polícia moçambicana, treinada e equipada muitas vezes por forças estrangeiras, levanta questões sobre o futuro da democracia no país. Em vez de garantir a segurança pública, as forças policiais têm actuado como braço armado do regime, protegendo os interesses de uma elite política que se recusa a aceitar qualquer forma de alternância de poder. As manifestações pacíficas são rotuladas como ameaças à segurança nacional, e os manifestantes são tratados como criminosos, sem qualquer garantia de seus direitos.

O futuro de Moçambique, caso o cenário actual persista, é sombrio. A violência só tende a aumentar à medida que o desespero da população cresce, e o governo continua a responder com repressão. Tal como no Haiti, o país corre o risco de se transformar num Estado falido, onde a legitimidade política é constantemente contestada e onde a violência estatal se torna a norma.

O desafio para o povo moçambicano é enorme, mas a história mostra que regimes autoritários, por mais longevos que sejam, eventualmente colapsam.

Entretanto, o custo desse colapso, em termos de vidas humanas, destruição social e perda de direitos, pode ser incalculável se medidas urgentes não forem tomadas para reverter o curso atual. Moçambique, à semelhança do Haiti, enfrenta um futuro incerto, marcado por uma luta intensa entre a vontade popular de mudança e a obstinada resistência de um regime que já ultrapassou todos os limites da legitimidade democrática.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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