A perda de jovens e o silenciamento de vozes
As manifestações em Moçambique têm se tornado um campo de batalha onde o Estado, representado por suas forças policiais, demonstra um padrão recorrente de repressão violenta.
Ao invés de se constituírem como instâncias legítimas de expressão de insatisfação e de luta por melhores condições de vida, as ruas estão se tornando um local de medo e violência. A morte de jovens nas manifestações é um símbolo perturbador de uma sociedade em que o Estado silencia as vozes de seu próprio povo em nome de uma suposta “ordem superior ”, que na prática funciona como uma defesa da manutenção do poder e da supressão de demandas legítimas.
O caso específico de jovens que perderam suas vidas às mãos da polícia é um reflexo de uma política de repressão que prioriza a força em detrimento do diálogo. Esse tipo de postura alimenta um ciclo de violência que distancia ainda mais o povo das instituições de poder, além de gerar uma crescente desconfiança entre os cidadãos e o governo. A polícia deve proteger os cidadãos e não combatê-los.
A falta de responsabilidade e de justiça nas investigações dessas mortes cria um ambiente de impunidade que permite que esses actos brutais se repitam, manchando o conceito de um Estado de Direito e esvaziando a ideia de uma democracia funcional. Por que usam as balas verdadeiras onde o povo está sem armas? Qual o conceito de uso da arma? Em momento a polícia é permitida pela lei uso de balas verdadeiras? O que a PGR faz para essa violência bárbara feita a céu aberto?
A morte de manifestantes pelas forças policiais revela também o temor que o Estado parece ter da participação activa da juventude, especialmente em um contexto em que as redes sociais amplificam suas vozes e denunciam as injustiças.
Jovens moçambicanos, que deveriam ser vistos como actores importantes para o desenvolvimento do país, são tratados como uma ameaça. Essa repressão não apenas limita o potencial de crescimento social e político da juventude, mas também ameaça os próprios fundamentos da liberdade de pensamento e expressão.
O uso da violência como resposta à manifestação é uma tentativa de desmotivar a participação cívica e de inibir futuras mobilizações. No entanto, isso apenas fortalece o sentimento de revolta e resistência, pois quando o Estado falha em proteger seus cidadãos e, em vez disso, os ataca, a legitimidade de suas ações se desfaz.
É essencial que Moçambique e a comunidade internacional exijam investigações transparentes, punições adequadas e, principalmente, o respeito aos direitos de manifestação e à vida. A luta dos jovens por um país melhor e mais justo não pode ser sufocada por balas e violência.
A brutalidade policial não apenas ceifa vidas, mas mata também a esperança e a crença de que é possível alcançar mudanças através da democracia. Cabe ao Estado de Moçambique repensar suas estratégias de actuação em protestos e resgatar o valor da vida de seus cidadãos. Somente assim será possível construir um futuro no qual a voz dos jovens será ouvida sem o medo de ser silenciada pela repressão. Onde está a PGR?