A voz que falta: um chamado aos padres moçambicanos

Padres de Moçambique, é com um coração cheio de inquietação e esperança que escrevo estas palavras. No cenário de nossa pátria, marcada por desigualdades gritantes e por vozes abafadas, espera-se que a igreja seja um abrigo e que seus líderes religiosos levantem suas vozes como verdadeiros representantes dos marginalizados e oprimidos. Mas onde está a marcha dos padres em suas batinas, caminhando ao lado daqueles que foram deixados à margem? Onde estão aqueles que deveriam ser os mensageiros da justiça, da dignidade e da liberdade?

Moçambique precisa mais do que nunca de líderes religiosos que se posicionem com firmeza contra as injustiças. A comunidade olha para a Igreja não apenas como lugar de oração, mas como um símbolo de esperança e de apoio incondicional aos desfavorecidos. 

Não obstante, muitos de vocês, padres e líderes religiosos, parecem observar em silêncio o aumento da pobreza, a repressão da liberdade e a marginalização dos mais vulneráveis. Este silêncio é ensurdecedor, e sua ausência é notada. É como se as paredes de vossas igrejas se tornassem muros que isolam a instituição de seu papel na sociedade.

A apatia de muitos de vocês reflecte um distanciamento dos ensinamentos de Cristo, que, sem temer a repressão, caminhou entre os excluídos, falou pelos que não tinham voz, e enfrentou a opressão com coragem. Se Jesus estivesse hoje em nossas ruas, nossos bairros, não estaria indiferente ao sofrimento e à injustiça. Por que então, padres de Moçambique ou outros líderes religiosos, vocês hesitam em agir com essa mesma audácia?

Peço que rompam o silêncio, que se unam em uma marcha simbólica, vestindo suas batinas não como um mero traje religioso, mas como bandeiras de compromisso com aqueles que precisam de esperança. Que sejam verdadeiros pastores do povo, caminhando ao lado dos excluídos, falando em favor de quem não pode se expressar, defendendo aqueles cujas vidas estão aprisionadas pela pobreza e pela exclusão. 

Sejam a voz que ecoa nas ruas, nas praças, nas aldeias, despertando a fé de que é possível, sim, um Moçambique mais justo e humano. Alguns podem dizer que escrevi isto por maldade e que não sei o papel da Igreja, mas mais do que distribuir santa ceia ou Eucaristia, há um compromisso social que a Igreja tem, servir de ponte para os marginalizados. E onde estão vocês?

O povo moçambicano anseia por esta presença activa, por uma Igreja que não se limita ao altar, mas que se expande ao cotidiano, ao compromisso com a verdade e a justiça. Padres de Moçambique e outros líderes religiosos, deixem de lado o medo e a inércia, e mostrem ao mundo que vocês são, de facto, a voz dos excluídos.

Que esta seja a marcha dos que acreditam no poder da fé em acção. Chegou a hora e esta em que o filho do homem será entregue aos impiedosos…

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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