Um Estado atento aos bens e não a vida

A crítica da sociedade moçambicana em relação à valorização excessiva de bens materiais em detrimento da vida humana traz à tona questões complexas sobre prioridades e valores. 

Infelizmente, nos últimos tempos, a narrativa pública em situações de conflito ou manifestações tem se concentrado muito na condenação da vandalização de bens materiais sejam edifícios públicos, veículos ou estabelecimentos comerciais enquanto as mortes de pessoas indefesas acabam por não receber a mesma atenção e reprovação. Que Estado construímos?

Este enfoque em bens materiais parece mostrar um desequilíbrio de valores. Ao priorizar a protecção do patrimônio, o Estado e a sociedade negligenciam a responsabilidade de garantir e respeitar a vida humana, que deve estar acima de qualquer outro interesse. 

Esta situação levanta questionamentos sobre o papel das autoridades e da media na formação e propagação de uma narrativa que coloca o valor económico acima da dignidade e segurança das pessoas. 

Ao condenar apenas a violência material, perpetua-se uma cultura em que o custo de um bem material pode ser avaliado de forma objectiva, enquanto a perda de uma vida é tratada como secundária ou inevitável.

Em Moçambique, onde diversos cidadãos enfrentam condições de vulnerabilidade económica e social, essa inversão de valores agrava a sensação de injustiça e exclusão. Se vidas humanas não recebem o mesmo nível de protecção ou indignação quando perdidas em situações de crise, é natural que o povo se sinta desvalorizado, como se seus interesses e sua segurança fossem negociáveis.

Para construir uma sociedade justa, é fundamental que as autoridades, a mídia e a própria sociedade moçambicana reconheçam e valorizem o princípio de que a vida humana é o bem mais precioso. 

Só assim será possível criar um ambiente onde cada cidadão se sinta protegido, onde as questões de segurança pública estejam focadas em salvar vidas e onde o luto e a dor das famílias não sejam relegados a segundo plano. 

Afinal, sem o respeito à vida, qualquer tentativa de progresso material torna-se vazia e insensível, gerando um ciclo de injustiça que compromete o próprio futuro da sociedade.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 12 de Novembro de 2024.

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