“No meio da ponte”: uma sociedade estagnada e uma gestão deficiente

Estamos no meio da ponte, mas não porque nos falta caminho; é porque insistimos em não atravessá-la. 

A situação em no nosso país hoje é menos uma consequência inevitável e mais um reflexo de escolhas deliberadas — de lideranças que preferem o conforto do status quo à ousadia de transformar. 

Não somos plenamente uma democracia nem abertamente uma ditadura, mas a incerteza não é acidental: ela é estrategicamente mantida, porque serve bem aos interesses de quem detém o poder.

A nossa política é um espetáculo que simula o funcionamento democrático, enquanto por trás dos bastidores reinam o clientelismo, a manipulação e a repressão velada. 

Eleições são realizadas, mas com resultados previsíveis. Promessas de inclusão e desenvolvimento são feitas, mas nunca cumpridas. Essa gestão, que deveria liderar o país para o futuro, parece empenhada em apenas sobreviver, sem ousar desafiar a inércia que corrói nossas instituições.  

Na sociedade, essa postura de cima contamina tudo. Vivemos um ambiente onde as relações são utilitárias e superficiais, onde o respeito é negociável e onde as promessas de mudança se tornam vazias antes mesmo de serem pronunciadas. 

Até a coragem, uma virtude tão necessária em tempos difíceis, é frequentemente restringida à indignação nas redes sociais, enquanto o medo cala quem poderia fazer a diferença no espaço público.

Os desafios são enormes, mas a resposta que recebemos é vergonhosamente insuficiente. A juventude está desempregada, desiludida e desamparada, enquanto aqueles em posições de poder fazem vista grossa, perpetuando políticas ineficazes ou, pior, usando a desesperança como ferramenta de controle. 

A censura, mesmo que disfarçada, torna o espaço de expressão limitado, e as tecnologias que poderiam democratizar o debate são sabotadas pela desinformação e pela instrumentalização partidária.

No entanto, o que mais impressiona — e indigna — é como essa situação é tratada. Não como uma crise urgente que exige acção, mas como algo a ser administrado, contido, mantido sob controle. 

Essa falta de seriedade transforma um cenário já trágico em uma comédia amarga, onde discursos inflamados são feitos sem convicção, e a esperança do povo é manipulada para sustentar uma paz que é tudo, menos genuína.

Por que permanecemos no meio da ponte? Porque é vantajoso para quem lidera. É conveniente manter o povo na incerteza, preso entre o medo de uma repressão aberta e a falsa esperança de um amanhã melhor que nunca chega. 

Essa gestão medíocre e calculista não é apenas um reflexo da nossa sociedade; é uma escolha política que perpectua desigualdades e sufoca qualquer tentativa de mudança real.

Se Moçambique quer atravessar essa ponte, é preciso enfrentar os problemas com coragem, honestidade e acção. Chega de meia-verdade, chega de pazes podres e de compromissos vazios. 

É hora de chamar as coisas pelo nome e exigir uma liderança que não apenas administre o presente, mas construa um futuro que todos possam verdadeiramente acreditar.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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