A relutância do Comandante-Geral da PRM

Nos últimos dias, Moçambique tem sido palco de uma crescente insatisfação pública devido à actuação da Polícia da República de Moçambique (PRM). 

Relatos de abuso de poder, repressão de manifestações pacíficas, uso desproporcional da força e aparente alinhamento político com interesses específicos têm manchado a imagem da corporação, levantando sérias questões sobre sua conduta ética e sua real função enquanto defensora dos direitos dos cidadãos. 

Diante deste cenário, a relutância do Comandante-Geral da PRM em renunciar ao cargo é emblemática de uma crise mais ampla de responsabilidade e prestação de contas nas instituições públicas moçambicanas.  

A posição do Comandante-Geral, em vez de reflectir um compromisso com a transparência e a legitimidade institucional, demonstra apego ao poder e falta de autocrítica. 

Um líder verdadeiramente comprometido com a segurança e a confiança pública deveria, ao menos, colocar o cargo à disposição diante de escândalos envolvendo sua corporação. Isso permitiria uma investigação independente e uma eventual reestruturação que restaurasse a credibilidade da polícia junto à população. 

No entanto, o silêncio e a permanência insistente no cargo sugerem uma tentativa de minimizar os danos reputacionais ou mesmo de encobrir falhas estruturais.  

Essa relutância também aponta para o que parece ser uma cultura política em Moçambique, onde a responsabilidade pessoal e a prestação de contas são frequentemente ignoradas. 

Ao invés de promover a alternância de liderança como forma de revitalizar as instituições, muitos líderes adotam uma postura defensiva, frequentemente associada ao receio de enfrentar as consequências de suas ações. 

Essa dinâmica corrói a confiança pública e perpectua a ideia de que as instituições existem para proteger interesses pessoais ou políticos, e não para servir ao povo.  

A actuação da PRM tem revelado um padrão perigoso de politização, com a polícia agindo, em muitos casos, como um braço de repressão de quem está no poder, em vez de garantir os direitos constitucionais dos cidadãos. 

Este comportamento é incompatível com os princípios de um Estado democrático e de direito. Diante disso, a renúncia do Comandante-Geral seria mais do que um gesto simbólico; seria um passo necessário para iniciar um processo de reconciliação com a população e de reforma profunda na corporação.  

A incapacidade de lidar com esses desafios não é apenas um reflexo de fraquezas individuais, mas também um sintoma de um sistema que precisa urgentemente de maior transparência, meritocracia e compromisso com os princípios democráticos. 

Portanto, a resistência do Comandante em deixar o cargo à disposição não apenas agrava a crise de confiança na PRM, mas também levanta dúvidas sobre o compromisso do governo moçambicano em garantir que suas instituições sejam realmente do povo e para o povo.  

 JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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