A paradoxal face do poder em Moçambique

No cenário sociopolítico de Moçambique, uma reflexão inquietante emerge: as armas que tiram vidas pertencem ao Estado, enquanto os bens destruídos representam o esforço e o suor do povo moçambicano. Essa dualidade cruel não apenas denuncia a desconexão entre o poder público e o cidadão, mas também revela uma profunda crise de legitimidade no exercício da autoridade.  

O Estado, que deveria ser o guardião dos direitos humanos e da propriedade colectiva, transforma-se em um agente de violência quando utiliza a força contra aqueles que, em tese, deveria proteger. Esse contexto reflecte a falência do contrato social e expõe a instrumentalização do poder como ferramenta de repressão, ao invés de promoção do bem-estar e da justiça social.  

A destruição de bens públicos e privados em actos de repressão ou tumultos sociais, longe de ser apenas um problema material, simboliza um abismo entre o governante e o governado. 

Os bens vandalizados constituem a base de sobrevivência de muitos moçambicanos. São sonhos despedaçados e recursos que poderiam ser revertidos para enfrentar os desafios urgentes do país no combate à pobreza.  

A questão, portanto, não é apenas condenar a violência, mas perguntar: quem se beneficia dela? É a manutenção de um sistema de poder insustentável, onde a repressão substitui o diálogo e a transparência, que perpetua a desigualdade e sufoca a liberdade de expressão. Enquanto isso, o povo, dono legítimo das riquezas do país, continua pagando um preço alto em sangue e perdas materiais.  

Urge uma mudança de paradigma. O Estado deve ser um instrumento de construção, não de destruição; de protecção, não de violência. Somente quando as armas forem silenciadas e substituídas pela voz do diálogo, e quando os bens do povo forem tratados como sagrados, Moçambique poderá trilhar o caminho da verdadeira democracia e justiça social.  

É tempo de romper o ciclo de repressão e sofrimento. Um Estado que mata seus cidadãos e destrói seu patrimônio está fadado ao fracasso, pois a força nunca será mais poderosa que a vontade de um povo que luta por dignidade, liberdade e um futuro melhor.

 JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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