A queda da estrela: o crepúsculo de Beatriz Buchile
Se a política fosse um palco de teatro, Beatriz Buchile seria aquela actriz que insiste em ensaiar para o papel principal, mas nunca convence a plateia. Durante o seu reinado como Procuradora-Geral da República, o que vimos foi uma performance digna de tragédia: os holofotes estavam lá, mas o talento dramático parecia perdido em meio a roteiros confusos e uma direcção claramente voltada a agradar apenas o rei e seus súditos.
Afinal, qual foi o legado deixado por Buchile? Lutou bravamente para trazer Manuel Chang ao país, dizem alguns. Mas “lutar”, neste caso, parece ter sido um eufemismo para aquele colega que manda muitos e-mails, mas nunca resolve nada.
Chang, como uma novela sem fim, segue como um personagem mal resolvido no enredo judicial de Moçambique, enquanto Buchile parecia mais preocupada em assegurar que Venâncio Mondlane recebesse uma pilha de processos para manter-se ocupado. Afinal, justiça selectiva também é um tipo de “trabalho”, não é mesmo?
E quanto ao povo? Ora, o povo estava lá… assistindo, ou melhor, sobrevivendo. Para muitos, Buchile será lembrada como aquela que vestiu o uniforme do regime e jogou na defesa. Não a defesa dos cidadãos, mas a defesa incansável de um sistema que cada vez mais parece um castelo de cartas prestes a desmoronar.
Agora que sua caneta dourada foi aposentada e os corredores da PGR ecoam sem sua presença, surge a pergunta inevitável: onde se colocará Buchile no tabuleiro após a queda do reinado? Será ela uma rainha sem trono, passeando pelos círculos do poder como uma sombra de sua antiga glória? Ou será que, como muitos políticos “aposentados”, encontrará conforto no discurso de que “fez o seu melhor”, enquanto o povo remexe os escombros do que foi deixado para trás?
Se há uma lição a tirar da saga de Beatriz Buchile, é que mesmo as figuras mais bem protegidas do regime têm prazo de validade. Quando a música para, não importa o tamanho da cadeira que ocupavam; o julgamento final será feito pela história.
E, no caso de Buchile, não será uma crônica de heroísmo, mas talvez uma tragicomédia: a história de uma líder que poderia ter sido muito mais, mas escolheu ser tão pouco.
Entre risos e suspiros, seguimos em frente. Buchile pode ter saído de cena, mas o palco da política moçambicana segue aberto para novos protagonistas – ou será que o próximo acto será mais do mesmo?
Segundo justiça nacional, Buchile está aos corredores da rua seguindo seu presidente a quem confiou o poder e a cadeira dourada.