O alto custo da liberdade

As recentes manifestações em Moçambique, que resultaram em 70 mortos e 240 feridos por disparos, são um alerta sobre a delicada relação entre governação, direitos civis e o papel do Estado na garantia de liberdade. 

Esses números expõem um cenário alarmante de repressão e violência que desafia os fundamentos de um estado democrático.  

Por que um governo, teoricamente comprometido com o bem-estar de seus cidadãos, responderia com tamanha força a protestos que, em essência, são uma expressão legítima de descontentamento popular? 

As manifestações, muitas vezes, são o último recurso de uma população que sente que suas vozes não são ouvidas pelos canais tradicionais de diálogo. No entanto, a resposta desproporcional e brutal sugere uma falha grave nas estruturas de mediação e uma tendência preocupante à supressão da dissidência.  

A Constituição moçambicana garante o direito à manifestação pacífica. Contudo, na prática, a brutalidade policial e a falta de responsabilização por abusos sugerem uma distância significativa entre o que está na lei e o que ocorre no cotidiano. Essa desconexão enfraquece a confiança da população no Estado e mina os pilares da democracia.  

Um aspecto crucial a ser considerado é o impacto dessas mortes e ferimentos na coesão social e no engajamento cívico. Para cada vida perdida, uma comunidade é deixada em luto; para cada pessoa ferida, um círculo de amigos e familiares é afectado. A repressão violenta, longe de conter os ânimos, pode inflamar ainda mais a indignação, criando um ciclo perigoso de protestos e repressão.  

Diante deste cenário, é imperativo que as autoridades moçambicanas adotem medidas concretas para proteger o direito de manifestação e assegurar que as forças de segurança ajam com proporcionalidade e respeito aos direitos humanos. 

Além disso, a sociedade civil e a comunidade internacional têm um papel importante na promoção de diálogo e na exigência de transparência e responsabilização.  

A liberdade tem um custo, mas esse custo não pode ser medido em vidas humanas. A busca por justiça e igualdade deve ser o Norte de uma nação que aspira à verdadeira democracia. 

O silêncio diante da repressão é cumplicidade; por isso, cabe a todos nós levantar nossas vozes para que essas tragédias não se tornem apenas números em um relatório, mas sim um ponto de partida para uma transformação real e urgente.  

Moçambique se tornará um Sodoma e Gomorra se a impunidade prevalecer.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

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