Chissano: processo negocial

O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano defendeu hoje que falta clareza no processo negocial para resolução da crise política e militar em Moçambique, observando que a razão do impasse reside na fraca cultura democrática.

“Não há clareza neste processo negocial. Parece que não sabemos o que queremos exatamente”, disse o antigo chefe de Estado moçambicano, falando durante uma palestra organizada pelo Instituto Superior de Relações Públicas em Maputo.

Alertando para a falta de uma cultura democrática nas elites políticas moçambicanas, o antigo chefe de Estado entende que o problema político do país transcende a agenda das actuais negociações de paz entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), e considera que a sua solução definitiva passa por uma discussão séria e abrangente sobre o sistema político.

“Neste momento, estão a discutir as seis províncias. Quem ganhou ou não ganhou. Mas esse não é o problema”, afirmou Chissano, em alusão ao ponto de agenda nas negociações que diz respeito à exigência do maior partido de oposição em governar as seis províncias onde revindica vitória nas eleições gerais de 2014.

Para Joaquim Chissano, a democracia em Moçambique está ainda num processo inicial e, consequentemente, os moçambicanos são desafiados a elevar o seu nível de participação política.

A falta de uma “oposição verdadeiramente construtiva” é apontada pelo antigo chefe de Estado como um problema que ameaça a política em Moçambique, revelando que o país precisa de “muita educação” no que respeita ao funcionamento de um sistema democrático.

“As crises políticas em África são sempre pós-eleitorais”, observou o antigo chefe de Estado, o que sugere que, além do desenvolvimento da consciência democrática, haja mais confiança nas instituições do Estado por parte das elites políticas.

“Para o caso de Moçambique, é preciso que haja confiança entre as partes, principalmente por parte da Renamo”, concluiu o antigo chefe de Estado.

A região centro e norte de Moçambique tem sido palco de confrontos entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.

A Renamo acusa, por sua vez, as Forças de Defesa e Segurança de investidas militares contra posições do partido.

Apesar dos casos de violência, o Governo e a Renamo estão em conversações em Maputo, na presença de mediadores internacionais.

 

 

REDACÇÃO

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