Dois Presidentes e uma Bíblia: quem fica com a chuva?
Era um dia de Sol prometido, mas, como manda a tradição moçambicana, a chuva veio para abençoar ou para confundir — o povo ainda não decidiu. No meio do aguaceiro, Venâncio Mondlane surge como um profeta moderno nas pistas do aeroporto de Mavalane, de óculos escuros e terno preto, segurando sua Bíblia de capa preta como se fosse um escudo contra o gás lacrimogéneo.
A Praça da Independência, geralmente acostumada a discursos e pompas, virou palco de um drama político digno de uma novela das 20h. Ali foi como uma espécie de controle com carros da polícia em prontinho para impedir as pessoas a aceder o aeroporto. Que chato!
De um lado, a polícia. Quem era contra, quem era a favor? Nem eles sabiam, apenas como de costume, cumprir ordens superiores. Sempre sonhei em conhecer esse “ordens superiores”.
Tudo o que entenderam foi: “Atirem gás! Se alguém perguntar, digam que foi por precaução”. Enquanto isso, o “presidente do povo” saia do aeroporto e marchava, imponente, como Moisés atravessando o Mar Vermelho, só que aqui era uma tempestade de protestos e lágrimas.
O povo, esse povo que ninguém entende, formava uma moldura humana tão apertada que dava até para sentir o cheiro do almoço mal digerido. É, o povo venceu, o povo compreendeu, o povo decidiu.
E aí veio o momento. Sem aviso, sem espera, sem cerimônia oficial. Mondlane, carregado pelo espírito de Afonso Dhlakama (e possivelmente por umas 200 mãos que o empurravam), decidiu: “Se é para tomar posse, que seja agora!” Ele não precisou de um tal dia 15, de um tapete vermelho, nem de um juramento longo. Foi ali, com a chuva abençoando (ou encharcando), que tudo aconteceu.
Mas aí vem a pergunta: “e agora?” Dois presidentes para um país já apertado? Um com a caneta, outro com a Bíblia. O que será de Moçambique? Haverá um reality show para decidir quem governa? Uma partida de futebol? Uma luta de dança tradicional?
O povo, esse povo tão apaixonado, já decidiu de que lado está. No aeroporto, o caos reinou: “Pousa aqui!”, gritou um. “Não, pousa ali!”, disse outro. Até o piloto ficou confuso. Afinal, quando foi a última vez que tanta gente apareceu para receber alguém que não fosse Cristiano Ronaldo?
E o “outro presidente”, o tal suposto eleito? Esse agora deve estar trancado em alguma sala, segurando sua caneta com força, pensando: “Será que se eu comprar uma Bíblia de capa preta, o povo muda de ideia?” “Qual será a cor da capa da minha Bíblia?” Pergunta o presidente de caneta.
Assim, o jogo está armado. Dois líderes, uma nação, e uma multidão pronta para torcer, reclamar e, claro, se molhar na chuva. Quem vai ficar com o trono? Quem vai levar a melhor?
Só sabemos que Moçambique nunca esteve tão animado. E, com um pouco de sorte, até a polícia descobre seu papel nessa peça. O enredo ainda vai dar de falar aguardemos!
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 10 de Janeiro de 2025.
Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Redactorfavor ligar para 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz
Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais ou pagando pelo paypal associado ao refinaldo@gmail.com.
Pode, também, seguir o Jornal Redactor no facebook