Jornalista até pode ser adúltero, mas promíscuo não! – LEANDRO PAUL
O título pode ser polémico, mas a realidade justifica o debate. Em Moçambique, como noutras partes do mundo, há jornalistas casados que vivem em situações de adultério, mantendo relações com mais de uma mulher.
A nossa Lei da Família estabelece que o casamento é uma união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, mas não impede que um homem casado mantenha outras relações extraconjugais, desde que não formalize múltiplos matrimónios.
Porquê esta introdução? Porque, ao contrário da sua vida privada, na esfera profissional o jornalista não pode ser simultaneamente duas coisas opostas; politicamente falando, não pode ao mesmo tempo ser da Frelimo e da Renamo. Tem de fazer uma escolha.
Se tem um compromisso com a profissão, não deve acumular funções que entrem em conflito com a sua actividade principal. Um jornalista não pode, ao mesmo tempo, ser advogado ou assessor de imprensa. Não pode litigar no julgamento por um seu constituinte e escrever no jornal sobre o caso que defende. De igual modo, não pode influenciar como jornalista, no seu órgão de comunicação social, sobre um seu “cliente” por quem está a ser pago para ser seu assessor de imprensa.
Falo com conhecimento de causa. Fui jornalista a tempo inteiro dos 18 aos 40 anos de idade, proprietário de jornais até aos 50 e, desde então, actuo como assessor de imprensa e relações públicas à frente da minha empresa de comunicação empresarial, FDS-Fim de Semana.
Desde que assumi esta nova actividade, nunca mais me apresentei como jornalista. Se os jornalistas fossem obrigados a ter carteira profissional, eu não poderia ter uma, por causa da incompatibilidade entre as duas profissões.
Conheço profundamente tanto a comunicação social como a comunicação institucional. Além disso, sou licenciado em Ciências Jurídicas, mestre em Direito Empresarial e estou a concluir um doutoramento em Estudos de Desenvolvimento, com uma tese sobre Relações Públicas Digitais. Também leccionei Direito da Comunicação Social, o que me dá ainda mais propriedade para abordar este tema.
Jornalista não pode ser “carne e peixe” ao mesmo tempo: Já escrevi sobre esta promiscuidade no meu livro “A Comunicação Empresarial em Moçambique” (2016), e Tomás Vieira Mário, no prefácio, endossou a preocupação:
“(…) no livro não faltam alertas – ou denúncias – a práticas profundamente anti-éticas, protagonizadas por jornalistas. Aqui Leandro Paul – que conhece tão bem o mundo do jornalismo como o da comunicação empresarial e da assessoria da imprensa – denuncia jornalistas que, no período da manhã, estão nas Redacções dos respectivos órgãos de informação, e, à tarde, são assessores de imprensa em ministérios. E, quando sejam jornalistas de televisão, chegam mesmo a levar ao estúdio o próprio assessorado, para ser entrevistado no telejornal (…)”, escreveu, na altura, TVM.
A promiscuidade profissional é tão evidente que, sempre que há mudança de governo – como agora está a acontecer -, muitos jornalistas correm freneticamente atrás de cargos de assessoria de imprensa junto dos novos ministros, atropelando até a Lei da Probidade Pública.
Como aceitar que um profissional de comunicação social seja, ao mesmo tempo, repórter e assessor de media? Ou pior: que seja jornalista e advogado, apresentando-se como tal consoante a conveniência? A Ordem dos Advogados permite esta dualidade?
Uma profissão sem “ordem”: O jornalismo moçambicano ainda não tem uma Ordem (como a dos advogados, médicos, engenheiros, contabilistas e até enfermeiros) nem sequer exige carteira profissional. Qualquer um pode acordar de manhã, abrir uma página nas redes sociais e escrever “sou jornalista digital” – e já está! É urgente trazer alguma ordem a esta profissão nobre, mas tão maltratada.
Para terminar, tal como iniciei, não me interessa com quantas mulheres um jornalista se relaciona na sua vida pessoal ou como as esconde da esposa legítima.
O problema é outro: sou contra profissionais que fingem ser uma coisa quando, às escondidas, são outra. Sejamos claros: haja decência e alguma moral na profissão!
Diria até: “Cada macaco no seu galho”.
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 07 de Fevereiro de 2025.
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