Maurícias celebrou 190° aniversário da abolição da escravatura

As Ilhas Maurícias se engalanaram entre semana passada e início desta, para assinalar, no dia 01 de Fevereiro deste 2025, o 190° aniversário da abolição da escravatura, prática que forçou “milhares e milhares de moçambicanos” a irem parar naquele país rematado ao largo do Oceano Índico.

As autoridades mauricianas admitiram ao Redactor não disporem de registos “exactos” sobre o número de moçambicanos que foram levados de Moçambique para as Ilhas Maurícias como escravos, vincando apenas que se tratou de “milhares e milhares” deles que sofreram, morreram e poucos sobreviveram até ao dia 01 de Fevereiro de 1835, data da abolição da escravatura decretada pelas autoridades coloniais britânicas de então.

Ao que apuramos, a data é anualmente assinalada com diversas cerimónias e eventos públicos em praticamente todo o país, uma vez que nele proliferam memoriais alusivos à escravatura e sua abolição.

Um dos momentos mais altos das comemorações da efeméride este ano foi a realização, nesta segunda-feira (03 de Fevereiro de 2025), na capital mauriciana, da Conferência internacional da UNESCO sobre as rotas dos povos escravizados, que contou com a presença do presidente da República das Maurícias, Dharambeer Gokhool.

Ao que nos foi dito, sem desprimor dos restantes, o Museu da Escravatura, o Monumento da Rota da Escravatura (ambos na capital, Port Louis) e os memoriais erguidos em Le Morne e em Mahebourg Point Canon, são os mais emblemáticos e objectos de romaria nesta efeméride que é geralmente marcada por uma série de celebrações carregadas de muito de muito simbolismo e solenidade.

Os memoriais não são erguidos à toa, todos eles têm a sua história peculiar –horripilantes, frise-se – com bustos e placas elucidativas.

A escravatura nas Maurícias começou em 1598, durante a ocupação alemã, prosseguiu após o país passar para a tutela francesa e mais tarde britânica, até à abolição decretada por Londres, o que não foi imediatamente implementado devido à resistência de alguns senhores de escravos, até ao dia 01 de Fevereiro, quando o general John Jeremie ordenou a soltura de todos os escravos sem indemnização exigida pelos “donos” dos mesmos.

“Os nossos ancestrais foram escravos. Hoje nós somos homens livres e cabe a nós o desafio de preservar esta liberdade, unidos e solidários”, defendeu Vijaya Kumar, à margem da Conferência Internacional da UNESCO sobre as rotas dos povos escravizados, realizada esta segunda-feira em Port Louis.

A historiadora moçambicana Benigna Zimba, que é igualmente Presidente do Comité Científico Membro da Comissão da Verdade e Justiça criada para buscar a verdade e justiça relacionada com o processo da escravatura referiu ao jornal Redactor em Port Louis que nos anos 1820/1830 aproximadamente 26% da população escrava nas Maurícias vinha de Moçambique, como resultado de todo um processo intenso de escravatura durante o século XVIII.

Moçambique e Madagáscar são os países que mais povoaram as Maurícias da população escravizada, de acordo com Benigna Zimba, igualmente Conceptora e co-fundadora do Museu Internacional da Escravatura, sedeado em Port Louis

“Resistência” liberdade”, “unidade” e “solidariedade” foram as palavras mais ouvidas em todos os momentos cerimoniais de evocação da data da abolição da escravatura nas Maurícias, muitos deles oriundos de Moçambique, Tanzânia, Madagáscar e Comores, de acordo com dados recolhidos no Museu da Escravatura em Port Louis.

Maurícias – único país da África onde o hinduísmo é a religião mais praticada – é das poucas nações do mundo que celebram de forma vibrante a abolição da escravatura, de tal modo que os mauricianos consideram o dia 01 de Fevereiro como o segundo mais importante da história nacional, a seguir ao 12 de Março, dia da independência, proclamada em 1968.

REFINALDO CHILENGUE (Texto e fotos)

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 04 de Fevereiro de 2025.

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