Anamalala S.A. — Sociedade dos Aborrecidos
Surge um partido sem jingle, sem comício, mas com a alma de um povo que já não se satisfaz com discursos.
No mundo mágico da política moçambicana, surge um novo actor com nome de tempestade: ANAMALALA. Não, não é um novo refresco nem um festival de música alternativa — é um partido político. E mais do que isso: é o primeiro partido oficialmente registado por gente que não foi convidada para a festa do poder.
A sigla não é sigla, é grito. A sede oficial? Provavelmente uma barraca de mercado, onde se vende esperança fiada. A Direcção Executiva? Um colectivo de aborrecidos crônicos: jovens desempregados, trabalhadores informais e todos aqueles que já foram enganados mais de duas eleições.
No manifesto inicial, nenhuma promessa de criar 100 mil empregos ou construir 20 mil escolas. Em vez disso, propõe algo mais radical: respeitar o povo. Veja bem, em tempos de crise, respeitar o povo é quase um acto revolucionário.
Símbolo do partido? Um sapato gasto, apontando para a direcção contrária do Palácio. Hino oficial? Ainda em fase de composição, mas especula-se que incluirá versos como:
“Não temos tecto, nem plano de saúde/mas temos voto e muito mais atitude!”
É o partido da ironia. Mas também da verdade escondida nos becos. Enquanto os outros fazem política com gravata, o Anamalala faz com gana. Não é a solução final, mas é o incômodo necessário. Um lembrete de que o povo também pensa, também sente — e agora também grita.
Se o sistema virou comédia, o mínimo que o povo exige é ser o roteirista da próxima temporada.
Sobre o autor: Rafael é cronista moçambicano. Escreve para cutucar, rir e refletir, às vezes tudo ao mesmo tempo. Tem fé na linguagem como ferramenta de resistência popular.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
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