Quando a rua fala, quem escuta?
Nos Estados Unidos, o grito do povo ecoa entre arranha-céus e chega até os portões da Casa Branca. Em Nova Iorque, Washington D.C. e outras grandes cidades, milhares marcharam contra Donald Trump, desafiando políticas migratórias e decisões judiciais com cartazes nas mãos e palavras nos pulmões. Nenhum tanque. Nenhuma bala. Nenhuma ameaça oficial. Apenas a democracia sendo posta à prova — e, de certo modo, funcionando.
Do outro lado do Atlântico, em Maputo, o cenário é outro. Clemente Carlos tentou convocar uma manifestação pacífica, legítima, com os mesmos elementos usados pelos americanos: cartazes e vontade. Mas antes mesmo que os manifestantes ocupassem o espaço público, a força do Estado já estava lá. Tanques de guerra. Militares armados. Um clima de intimidação digno de campos de batalha, não de praças públicas.
Essa comparação não visa enaltecer os EUA como modelo perfeito de democracia — não o são. Mas é inegável: quando o povo fala, eles escutam. Ou, ao menos, não os calam com armas. A democracia ali não é perfeita, mas respira. Em Moçambique, ela ainda engatinha, sufocada por um medo herdado e reforçado por um poder que se sente ameaçado pela própria população.
Caminhos para que a democracia vingue em Moçambique:
1. Educação cívica de base: é preciso ensinar desde cedo o que significa viver em um regime democrático, quais são os direitos de manifestação, liberdade de expressão e participação política. Conhecimento é resistência.
2. Reforma das forças de segurança: a polícia deve ser treinada para proteger o povo, não para intimidá-lo. É preciso mudar a lógica de guerra por uma lógica de convivência democrática. Evitar a militarização do Estado.
3. Liberdade de Imprensa e Proteção a Activistas: a media independente e os movimentos civis precisam de proteção legal e institucional para operar sem medo de represálias. Onde há voz livre, há sociedade atenta.
4. Participação popular real: criar mecanismos de consulta e escuta ativa da população nas decisões políticas. A democracia não pode ser um ritual de cinco em cinco anos, mas um exercício permanente de aproximação com o povo.
5. Pressão Internacional e Cooperação Regional: a diplomacia internacional pode e deve cobrar respeito aos direitos humanos e às liberdades democráticas nos países parceiros, inclusive com incentivos positivos para reformas democráticas.
Democracia não se impõe com tanques. Ela se constrói com confiança mútua, escuta ativa e, acima de tudo, coragem. A mesma coragem que levou Clemente Carlos e tantos outros a tentar — mesmo diante da ameaça — dizer: estamos aqui, e queremos ser ouvidos.
“Façamos da escola uma base para o povo tomar o poder”! – Bem pregava Samora Moisés Machel
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
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