Estrada da ilusão: a via Crucis entre Nampula e Mecubúri
A estrada que liga a cidade de Nampula ao distrito de Mecubúri, com seus meros 55 quilómetros, custa aos passageiros não apenas 300 meticais — custa-lhes paciência, esperança e dignidade. O percurso é uma verdadeira metáfora do abandono: um tapete de buracos e promessas não cumpridas, onde o tempo parece estagnar e a poeira cobre qualquer tentativa de progresso.
Enquanto os pneus se rasgam e os motores sucumbem, o governo assiste impassível, como quem contempla uma tela em preto e branco de um filme que já viu mil vezes. O povo clama, denuncia, protesta. E o governo? Finge ouvir, finge agir, finge governar. Uma dança de aparências em que o povo, cansado de esperar, finge acreditar.
A estrada, que deveria ser um símbolo de ligação entre centros urbanos e zonas rurais, tornou-se um sepulcro de viaturas. Cada viagem é um teste de resistência física e emocional. Os motoristas arriscam-se a cada curva, e os passageiros, entre solavancos e preces silenciosas, vêm seus dias consumidos por trajetos que poderiam durar menos de uma hora — mas que se arrastam por uma eternidade.
A tragédia maior, porém, não está apenas no estado da estrada, mas na normalização da negligência. A culpa evapora-se entre comissões e promessas, e a responsabilidade perde-se nos corredores labirínticos da burocracia. Há quem ocupe cargos não para servir, mas para se servir. Gostam do poder, mesmo sem fazer nada. Aliás, gostam especialmente do poder quando não precisam fazer nada.
O que se vive ali não é só abandono. É feitiçaria governamental — uma mistura diabólica de má gestão, indiferença e teatro político. A estrada Nampula–Mecubúri não é apenas uma via em más condições: é o reflexo de um país que ainda precisa escolher entre o comodismo do discurso e a urgência da ação.
E enquanto isso, o povo caminha. Ou melhor: tropeça, afunda e espera. Espera que um dia o governo acorde. Espera que um dia a estrada mude. Espera que um dia, o fingimento acabe.
JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA
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