Entre cores e sentidos: a arte de Sandra Pizura
Natural da Cidade de Maputo, Sandra Pizura, de 39 anos, transforma o quotidiano e a ancestralidade em camadas de tinta e textura. Sua arte pulsa identidade, dor e celebração, tudo isto num pedaço de tela.
Mãe de dois filhos, Sandra passou a infância e adolescência no icônico bairro da Mafalala. Nos últimos anos, tem-se destacado com suas obras realistas, impactando profundamente quem entra em contacto com suas telas.
Provavelmente “enfeitiçada” pelas tradições do seu habitat, a veia artística de Pizura surgiu ainda na infância. Partilha alguns detalhes do seu percurso, actualidade e sonhos, em entrevista à revista Prestígio e ao jornal Redactor:
“Diria que tudo começou logo na infância, porque toda criança tem sempre aquele lado de desenhar”. Sandra teve a sorte de poucos: contou com o apoio da progenitora, e aos 14 anos se firmavam as suas habilidades naturais e já tratava as tintas e pincéis por “tu”.
“Minha mãe percebeu que eu era uma criança que gostava muito de desenhar. Acho que até determinada altura ela viu que era necessário eu entrar numa escola de artes para aprimorar o meu interesse, ou a minha queda, porque até lá eu já fazia bons desenhos. Indo mesmo à escola de artes fui percebendo, fui melhorando as minhas habilidades. E por isso estou aqui até hoje”, relatou.
Inspirada no dia-a-dia e com uma forte linha realista, suas pinturas retratam vivências de Moçambique, as dores, as alegrias e os dilemas sociais.

“Quando acontece alguma coisa, eu penso: como é que eu represento isso? Como é que eu vou fazer isso? Mas não são apenas situações tristes. Eu tenho um lado de interdisciplinaridade, também pinto coisas alegres. O que me motiva mesmo são as questões sociais”, destacou.
Ainda acrescenta: “as minhas obras talvez tenham essa linhagem política, mesmo que, talvez, não seja intencional”.
No que toca às técnicas e materiais, Sandra prefere o que lhe traz conforto e liberdade criativa.
“Inicialmente, gostava muito de usar aguarela, porque trabalhava em superfícies pequenas, como cartolina. Mas, quando comecei a querer uma expressão mais marcante, fui-me desafiando a trabalhar em tamanhos maiores, ou seja, telas e, passei a usar mais a técnica acrílica. Já experimentei a técnica a óleo, mas não me sinto tão confortável, até por causa do cheiro. Então, prefiro não forçar”, vinca.
Admite que dentre as suas muitas obras, uma das mais marcantes foi a pintura sobre a morte do rapper Azagaia (Edson da Luz) – ocorrida a 09 de Março de 2023 –, e de outras figuras com relevância social em Moçambique.
“Já tive obras que causaram repercussão, mesmo por serem sobre questões sociais. Uma delas foi a que fiz após a morte do Azagaia. Acho que a obra viralizou de uma forma que até me assustei. A obra chama-se Habitantes do Além, porque nela estão todos que já não existem, figuras de destaque a nível nacional, como [José] Craveirinha, Malangatana [Valente Ngwenha] e o próprio Azagaia”, prossegue a nossa entrevistada.
Gostaria de estar em momentos e lugares onde sem limites
Apesar da projecção nas redes sociais, Sandra considera o mercado artístico moçambicano ainda limitado:
“Existe aceitação aqui em Moçambique, mas ainda há um défice na apreciação. A nível de compra, ainda se luta muito. Não sei se é a falta de dinheiro ou se os potenciais compradores não são apreciadores de arte. Esse é um dos problemas. E realmente não é satisfatório, porque se alguém expôs, no final gostaria que pelo menos comprassem uma obra”, deplora.

No capítulo dos sonhos e projectos, Sandra deseja cruzar fronteiras:
“Gostaria de ter várias realizações e participações no mundo das artes, ter muitas experiências com artistas que eu nem imagino, descobrir e estar em lugares que talvez nunca pensei. Para mim, o sonho seria estar em momentos e lugares onde eu não vejo limites”.
Para quem deseja ingressar nesse universo colorido, ela deixa um conselho:
“Cada artista tem sua forma, e o que ele apresenta é sempre relativo. Por isso, penso que é uma área que deve ser vivida de coração”.
Actualmente, as obras de Sandra Pizura estão expostas em três espaços da Cidade de Maputo: a Galeria do Porto de Maputo, o Núcleo de Arte e o Museu Nacional de Arte.
TOMÂZIA JOB (Texto e fotos)
Este artigo intitulado foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 06 de Maio de 2025.
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