Criminosos ambientais
Criminosos ambientais – A relação entre os africanos originais e a floresta é muito antiga.
Consta que os africanos eram povos que, basicamente, viviam da caça e da recolecção nas florestas.
O meu avô paterno, Hlangule, morreu cedo pagando o crime cometido pelo seu irmão mais novo, Peny, que durante uma sessão de caça teria tido uma discussão com um outro caçador no mato sobre uma gazela, que ele falhara matar mas que logo depois foi fatalmente atingida pelo outro caçador.Peny achou que a gazela fora primeiro atingida pela sua seta e depois pela seta do outro.
A discussão entre os dois terminou em peleja e acidentalmente Peny furou a barriga do seu adversário com uma seta e este morreu.
Os familiares do malogrado exigiram que o crime fosse pago com a morte do agressor. O meu avô Hlangule decidiu pagar com a sua vida o crime do irmão e assim foi morto pela família da vítima dePeny, deixando o meu pai,Tiyani, ainda bebé, no colo da mãe, Nyatshali, enviuvada.
A vida na aldeia nos tempos do meu avôHlanguleera de caça nasflorestasextensas e frondosas, porque ninguém ousava dizimar as árvores para a extracção de maneira comercial.
Biólogos dizem que as árvores são fontes primárias de geração de oxigénio essencial para a vida humana.
No entanto, durante a “Operação TRONCO”, lançada pelo Ministério moçambicano da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, foram descobertas quantidades industriais de madeira em Nampula, Zambézia, Manica, Sofala, Tete, Niassa e Cabo Delgado.
As imagens da “Operação TRONCO” que chegam à diáspora, incluindo à minha aldeia, pela televisão pública nacional de Moçambique, mostram um verdadeiro massacre, um genocídio contra as florestas geradoras primárias de oxigénio essencial para a vida humana.
Os operadores madeireiros cometeram crime ambiental.
A maior parte dos estaleiros visitados pelas brigadas da “Operação TRONCO” pertence a cidadãos chineses. Acredito que no seu país (deles), China, não fazem aquilo que estão a fazer em Moçambique, à guisa da “cooperação”.
Foram aplicadas medidas administrativas em forma de multas que ascendem a 70 milhões de meticais. Ninguém sabe ao certo se os prevaricadores vão mesmo pagar as multas.
Mesmo pagando, o crime foi cometido. Centenas de milhares de árvores foram dizimadas.
Moçambique deve mudar a legislação florestal para aplicar penas de prisão aos criminosos que dilapidam as florestas sem dom nem piedade.
Entretanto, acho que não há relação entre a falta de carteiras nas escolas de Moçambique com a exploração criminosa da floresta.
O primeiro impacto da carnificina florestal é a falta de oxigénio para a vida humana. As populações nas zonas rurais jánão podem fazer caça como fazia Peny,irmão do meu Hlangule, e muitos outros do seu tempo, porque as florestas extensas e frondosas foram dizimadas eternizando o RANCOR DO POBRE.
Thangani wa Tiyani (Preenche esta coluna às Quartas-feiras na versão PDF do jornal Correio da manhã)