Comentários irresponsáveis
Comentários irresponsáveis – Na senda dos “regressos”, depois do anúncio presidencial de que “Moçambique está de volta” e da notícia do senhor Rogério Zandamela de que “a estabilidade económica financeira está de volta”, para completar o desfile, falta uma terceira revelação, e não podia ser outra: Chitima.
Sim, “Chitima está de volta”, como notícia, desta vez não por causa da tragédia da bebida Phombe, mas por ter sido escolhida como palco de uma “importantíssima revelação”, não de um “pobre coitado qualquer”, mas do próprio Nyusi. Sim, ele mesmo, Sua Excelência o Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto.
Chitima foi escolhido pelo Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique para alertar os seus concidadãos a se acautelarem de “um grupo de pessoas” que não detalhou a sua identidade nem composição, mas tratou de afiançar tratar-se de elementos “mais perigosos que a Renamo” que estavam em acção no terreno. Igualmente sem especificar o respectivo espaço geográfico, agravando ainda mais o quadro.
O incumbente-mor pode não estar nem ter avaliado o impacto negativo que causaria/causa esta sua “denúncia”, mas a verdade é que ela já está a fazer alguns estragos e, rogo, não vão aí além.
É que este pacífico, maravilhoso mas muito maltratado povo, de tanto sacrificado, sempre pelos mesmos, pelo menos nestes últimos 40 anos, leva muito a sério qualquer “tirada” lançada pelos seus algozes do costume.
É que, para além de abrir espaço para incursões de muitos oportunistas há muito à socapa, as declarações do senhor Presidente da República estão a gerar desconfiança, medo e terror entre muitos e pode haver gente por aí a esfregar as mãos e/ou a contar espingardas e munições para entrar em acção, porque a declaração da “sua” existência já foi anunciada, ao mais alto nível.
Como um “passarinho amigo” me veio soprar ao ouvido, na sequência do “anúncio presidencial”, mais tarde apimentado pelos comentários da habitual contraparte, na voz do Dhlakama, o Afonso MacachoMarceta, líder da Renamo, um grupo de pais/encarregados de educação decidiu, esta semana, não permitir que os seus filhos/educandos de duas instituições de ensino superior de Moçambique viajassem, por terra, para a nortenha província de Tete, no âmbito das habituais “actividades de Julho – AJUS”, expressamente por temerem que os seus caiam em alguma cilada nas estradas já declaradas publicamente “inseguras” pelo mais alto magistrado da Nação!
Será este o preço do menosprezo de assessorias competentes ou a falha delas, ou simples desejo de distrair o público de um determinado foco?
E logo num país onde os “imediatos” todos parecem ter entrado em “menopausa intelectual” e cursado o “papagaismo”, daí o iminente risco de, no futuro, ouvirmos destes a repetição enfadonha da proclamação presidencial de que “um grupo de pessoas mais perigosos que a Renamo está no terreno, e em acção”.
Seria o caos total, que a maioria dos moçambicanos não deseja, sinceramente.
Talvez se vá a tempo de se corrigir esta grave “gaffe”.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã no dia 07 de Julho de 2017, na rubrica semanal intitulada TIKU 15