Praças dos heróis

Praças dos heróis: Em algum momento alguém pronunciou Moçambique pátria de heróis! Como tem sido hábito, a reprodução da frase tornou-se recorrente por parte de alguns “dirigentes”.

Não pretendo questionar o slogan, muito pelo contrário. Acredito que efectivamente Moçambique é pátria de heróis, uns reconhecidos, outros nem por isso, mas tudo compreensível.

O que não pode ser compreensível é que todos os que o partido Frelimo, por exemplo, considere heróis encontrem a mesma consideração junto dos membros do partido Renamo, MDM, PIMO, PDD e por aí fora, e vice-versa.

Até porque muitos dos heróis anónimos são os que podem reunir consenso generalizado.

Talvez por se tratar de pátria de heróis, proliferam, por praticamente todas as capitais provinciais deste Moçambique e até em algumas sedes distritais e de localidade o que se apelida de “praça dos heróis”, mas que, em bom rigor, de praça de heróis nada têm.

Porque não é a toa que se diz que Moçambique é pátria de heróis – tem-nos aos montes –, já não se percebe por que razão existem tantas praças dos heróis sem nenhum herói, de verdade, nelas depositado.

A longa noite colonial e a luta pela independência geraram milhares de heróis anónimos que jazem em numerosas valas comuns conhecidas um pouco por todo o país. O mesmo “produziram” a guerra entre o Governo da Frelimo e a Renamo ao longo da tristemente célebre “guerra dos 16 anos” e hostilidades consequentes, vinte anos após o calar de armas. Neste último “esforço” destacaram-se os “esquadrões da morte” que, também, geraram muitos heróis anónimos, e com uma brutalidade descomunal.

Presidente da Republica colocando uma coroa de flores na Praça dos Heróis em Lichinga, Niassa, no dia 07 de Setembro de 2017
Presidente da Republica colocando uma coroa de flores na Praça dos Heróis em Lichinga, Niassa, no dia 07 de Setembro de 2017

Posto isto, importa perguntar se não seria de bom tom quem de direito tratasse de mandar recolher algumas ossadas desses heróis – os gerados durante a dominação colonial, luta pela independência, guerra dos 16 anos e das hostilidades subsequentes e depositá-las nas chamadas praças dos heróis que proliferam por este país todo? Não me parece ser algo que requereria muitos recursos porque as ossadas desses heróis anónimos estão em praticamente todo o país.

Acredito que aí, efectivamente, todos nos curvaríamos com um sentimento genuíno e sério de homenagear heróis nacionais porque até ninguém saberia quem ali jaz e podia, de uma ou de outra forma, até ser membro da sua organização de coração ou até um familiar, ao invés de ,volta e meia, dirigentes dos mais variados escalões se curvarem diante de pedras puras e simples, salvo na Praça dos Heróis, erguida na cidade de Maputo.

Tenho dito.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão em PDF  do jornal Correio da manhã, no dia 08 de Setembro de 2017, na rubric seminal TIKU 15!

 

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