Que finais felizes
Finais felizes – As detenções de Paulo Zucula, Mateus Zimba e José Viegas na passada quinta-feira, alegadamente suspeitos de terem recebido subornos de 800 mil dólares norte-americanos em jeito de garantirem a adjudicação de um negócio de 70 milhões de dólares norte-americanos à Embraer que vendeu duas aeronaves comerciais à companhia aérea de bandeira moçambicana, veio uma, vez mais, demonstrar que a Procuradoria-Geral da República prende primeiro, para investigar depois…
É como se um ‘Estado Paralelo’ estivesse a emitir claros recados sobre quem de facto manda nesta “pátria de heróis”. É como se o Estado de Direito e as suas instituições estivessem enclausurados num cativeiro à espera que alguém pague o resgate, pelo seu sequestro.
É difícil, mas temos de assumir: o Estado foi sequestrado. Os sequestradores, ou raptores, encontram-se enraizados nas entranhas desse aparato, com direito a armas e sentenças ditadas, que são executadas quando bem lhes apetecer. As prisões continuam a ser lugares para pilha-galinhas e não para gente de colarinho branco…
Agora, António Carlos do Rosário, o presidente do Conselho de Administração das empresas Ematum, MAM e Proindicus, pode seguir esse caminho e, será solto. Ao semanário Canal de Moçambique diz que espera que lhe indiquem a unidade penitenciária onde se deve apresentar…
Mesmo nos contos de fadas os finais felizes demoram um pouco a acontecer. Mas é preciso sempre lembrar que num dia do século que passou e, em plena Assembleia da República, o então deputado Teodato Hunguana disse para quem o quis ouvir: “A única forma de evitar que o Estado caia definitivamente nas malhas do crime é desencadear uma guerra sem quartel contra os mentores da alta criminalidade e, também, dos seus executantes ou instrumentos. Um combate apenas dirigido contra estes, deixando aqueles incólumes e intocáveis, significa manter intactas as fontes da sua reprodução, fontes que se tornam cada vez mais poderosas e capazes de se apropriarem do próprio Estado”.
O crime organizado causa elevados danos para uma economia frágil de um país periférico, por desencorajar o investimento e o desenvolvimento, sobretudo da indústria turística, de que Moçambique deveria gozar de vantagens comparativas.
Ninguém se irá surpreender se esses impunes criminosos começarem a operar no palácio da “Ponta Vermelha” ou na Presidência da República.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Que finais felizes são estes mais rápidos que nos contos de fadas?
LUÍS NHACHOTE
Este artigo foi publicado em primeira mão na edição do dia 14 de Dezembro de 2017, na versão PDF do jornal Correio da manhã na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA