Museu do Apartheid
Museu do Apartheid – A aquisição do bilhete de acesso ao local, por si só, já remete o turista a recuar aos tristemente célebres tempos da política de desenvolvimento separado, vulgo “apartheid”, que vigorou oficialmente na vizinha República da África do Sul entre 1948/1994.
BRANCOS e NÃO BRANCOS. Assim vem estampado nos bilhetes, entregues aleatoriamente aos visitantes, gesto bastante para recordar o desconforto que foi viver sob um sistema de segregação racial por longas décadas.
Passo seguinte: idem nas entradas: BLANKES (em afrikaners)/WHITES (inglês) e NIE BLANKES/NO WHITES, ou seja, BRANCOS e NÃO BRANCOS. São estes os dizeres com que se depara (nos portões) quem visita o Museu do Apartheid, uma autêntica revisitação à história da África do Sul no seu período mais “negro”.
Qualquer normal que para lá se faz é inevitavelmente tomado por uma miscelânea de sentimentos comoventes pelo que foi a longa noite do apartheid na África do Sul, a resistência e a vitória popular sobre aquela política simplesmente absurda e desumana.
O Museu do Apartheid tem uma estrutura multimídia impressionante e conta toda essa história através de filmes, fotos, textos e objectos, de forma bem interactiva.
Quem visitar Joanesburgo pode reservar umas duas/três horas para aprofundar os seus conhecimentos sobre a História do Apartheid, em particular, e da África do Sul, em geral, percorrendo aquele espaço preparado com elevado gosto e mestria para informar/formar gerações actuais e vindouras, por apenas 65 randes (aproximadamente 290 meticais).
No local estão patentes memórias sobre cidadãos comuns e famosos que apenas têm um denominador comum: ter vivido na pele, carne e osso o impacto directo do apartheid implantado na África do Sul durante a governação do Partido Nacional (exclusivamente integrado por brancos).
O jovem guia sul-africano Vuzi é um dos que acreditam que a África do Sul está a mudar positivamente, desde que o sistema oficial de segregação racial foi oficialmente erradicado. “Durante o apartheid os não brancos, em especial os pretos, eram tratados pior que gado”, justifica.
Nos primeiros corredores estão expostos exemplares de documentos de identificação que, para além da cor da pele, especifica os cidadãos pela sua etnia: suázi, zulu, ndebele, xosa, sotho, e por aí em diante.
Logo de seguida estão expostas cordas penduradas, simbolizando a forma como muitos combatentes contra o regime sinistro perderam as suas vidas nas masmorras do regime. O suicídio foi geralmente usado como causa da morte nos lacónicos comunicados oficiais que por vezes eram emitidos pelo Governo de Pretória.
“Causas desconhecidas”, “escorregão no banheiro”, “morte por enforcamento” eram outras alegadas causas das mortes dos resistentes nas cadeias do regime que podem ser contemplados no museu inaugurado em 2001 junto a um complexo de entretenimento que compreende o conhecido e muito frequentado Golden Reef City Casino, uma antiga mina de ouro adaptada para hotel, museu e diversão.
Democracia, igualdade, reconciliação, diversidade, responsabilidade, respeito e liberdade são as palavras que adornam os imponentes sete pilares do Museu do Apartheid que apenas fecha ao público às segundas-feiras.
São estes sete princípios pelos quais a nova Constituição da Nação Arco-Íris é nominalmente baseada. Esta “Carta-mãe” oficialmente pôs um fim ao “apartheid” em 1996.
Decepcionante, ainda, é sair do museu e constatar que muito do que penosamente se penou e se combateu prevalece, o domínio (principalmente económico) de uma minoria sobre a maioria, situação aproveitada por alguns sectores sociais até para ridicularizar a figura do ícone da luta anti-apertheid: Nelson Mandela.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 11 de Janeiro 2018.
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