Preço de mimos
Preço de mimos – Nunca fui bebé ou criança minado pelos meus pais. Aliás, nasci numa aldeia e numa altura em que não havia Direitos de Criança, pelo menos para a população negra.
Desde garoto pastor de gado a aluno primário e secundário nunca fui mimado.
Na minha escola primária havia apenas uma carteira. O chão de cimento cansado tinha buracos por quase toda a sala onde decorriam aulas.
A única carteira era ocupada por quem chegasse mais cedo. Raras vezes conseguia chegar cedo para ter lugar na carteira com espaço para quatro alunos, porque a minha casa ficava longe da escola, andava a pé e todas as manhãs começava por fazer trabalho de machamba.
Foi assim desde a segunda até à quarta classe. Era normal na minha aldeia e ninguém se sentia pobre ou rico.
Não havia casas de banho com água. Usávamos latrinas construídas por nós em fins-de-semana.
Entretanto, durante quatro anos que frequentei a mesma escola primária, ninguém morreu numa latrina escolar.
Depois passei para a única Escola Secundaria que havia na vila distrital da minha aldeia. Não me lembro de ter visto ou usado casa de banho com autoclismo no recinto da escola.
Entretanto, no centro internato onde vivia havia casas de banho com autoclismo. Foi a primeira vez que usei autoclismo na vida.
A limpeza das casas de banho era feita por nós todas as manhãs cedo antes de irmos às aulas.
O mesmo aconteceu na escola pré-universitária, sem mimos nem mimados. Ora, vivendo na Nação Arco-íris criada por Nelson Mandela em 1994, tenho acompanhado com espanto o preço de mimos a provocar a derrapagem económica acelerada.
Tem havido regularmente relatos de crianças que morrem em latrinas escolares.
A comunicação social local considera escandalosa a situação de falta de casas de banho com água canalizada em algumas escolas.
Nas comunidades, quase todos os dias há ocorrência de manifestações de protesto contra a alegada falta de serviços básicos, tais como água canalizada e energia eléctrica, habitação e muitos outros mimos que na minha aldeia de infância ninguém tem e jamais reivindica.
Cerca de 30 escolas primárias e secundárias foram completa ou parcialmente destruídas há dois anos a fogo posto por populares em Vuwani, na Província do Limpopo, em protesto contra a divisão administrativa local.
No mesmo ano, a África do Sul registou manifestações violentas na maioria das 26 universidades públicas. Os estudantes exigiam ensino gratuito e queimaram bibliotecas com acervos seculares.
Populares queimaram 28 autocarros de passageiros em Mamelodi, arredores da cidade de Pretória, em protesto contra candidato do ANC a presidente do município da capital sul-africana na véspera das eleições municipais de Agosto de 2016.
Passageiros zangados queimaram carros e locomotivas na semana passada em Durban, alegadamente por causa do atraso de comboios de passageiros.
Os mimos de boa vida estão a provocar derrapagem ao gigante económico-industrial do continente africano.
O governo aumentou o Imposto do Valor Acrescentado (IVA), de 14 por cento para 15 por cento a partir de Abril deste ano, facto que aconteceu pela primeira vez desde 1993.
Nesta quarta-feira, o país regista (ou) o maior aumento de preços de combustíveis na história da Nação Arco-íris.
São preços dos mimos a provocarem O Rancor do Pobre.
THANGANI WA TIYANI
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 04 de Outubro de 2018 na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE!
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