FRELIMO ganhará em 2019
A consultora Eurasia considera que a detenção do ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang desencadeou uma “crise política” no país, mas a FRELIMO deverá, ainda assim, ganhar as presidenciais deste ano, “as mais equilibradas desde 1999”.
Numa nota enviada à Lusa no seguimento da detenção de Manuel Chang na África do Sul, em trânsito de Maputo para o Dubai, o director para a África Subsaariana da Eurasia, Darias Jonker, disse que “a detenção de Chang desencadeou uma crise política que a FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder] tentou evitar nos meses até às eleições presidenciais”, marcadas para 15 de Outubro.
Para este analista, “as eleições de Outubro vão ser as mais renhidas no país desde 1999, quando a FRELIMO ganhou a presidência por apenas 2,29%”, mas ainda assim a FRELIMO deverá manter a Presidência moçambicana, embora “a vitória para o partido no poder vá ficar cada vez mais dependente da sua capacidade de influenciar a votação a seu favor”.
Na nota enviada à Lusa, Jonker disse ainda que Manuel Chang, que vai hoje ser ouvido pela segunda vez esta semana num tribunal sul-africana para se opor ao pedido de extradição feito pelos Estados Unidos, não deverá conseguir convencer os juízes.
“É muito provável que a FRELIMO esteja a pressionar o Governo da África do Sul para se opor à extradição [para os Estados Unidos] e permitir que Chang regresse a Moçambique”, diz o analista, acrescentando, no entanto, que “esta tática não deverá resultar porque a FRELIMO tem muito menos influência sobre o Presidente Cyril Ramaphosa e o Congresso Nacional Africano do que tinha no passado”.
A extradição vai degradar as relações entre os Estados Unidos e Moçambique, mas o Governo não deverá “antagonizar publicamente os norte-americanos” devido à necessidade que Moçambique tem de manter os investimentos das empresas dos Estados Unidos no sector do gás natural.
A detenção está relacionada com os empréstimos contraídos por empresas públicas moçambicanas entre 2013 e 2014, no valor de 2,2 mil milhões de dólares norte-americanos, que foram escondidas das contas públicas apesar de terem o aval do Estado, que a acusação da Justiça norte-americana diz ter tido a assinatura do então ministro das Finanças, Manuel Chang, que é acusado de ter recebido pelo menos um suborno de cinco milhões de dólares norte-americanos.
A pedido dos Estados Unidos, que emitiram o mandado de detenção internacional, Manuel Chang está detido em Johanesburgo desde 29 de Dezembro.
A dívida oculta de Moçambique, no valor de USD 2.200 milhões, representa metade do custo total do país com as dívidas, apesar de valer menos de 20% do total em termos absolutos e está em investigação pelas autoridades norte-americanas, por suspeitas de corrupção.
Além do antigo ministro das Finanças moçambicano, a investigação que está a ser realizada pela justiça norte-americana levou à detenção de outros três antigos banqueiros do Credit Suisse, em Londres, e de um intermediário libanês da Privinvest, no aeroporto de Nova Iorque.
A ‘dívida oculta‘ é a expressão utilizada para denominar os empréstimos feitos no princípio desta década a três empresas públicas: a Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), a Mozambique Asset Management (MAM) e a ProIndicus, três entidades tuteladas pelo Ministério da Defesa e que apresentaram projetos de segurança marítima, usando o Credit Suisse e o VTB como os parceiros financeiros.
Na segunda-feira, na sua primeira posição pública desde a detenção de Chang, o Ministério Público moçambicano disse que os EUA não responderam a uma carta rogatória expedida em Março de 2017, sobre o processo relativo às dívidas ocultas.
“Relativamente aos EUA, a PGR [Procuradoria-Geral da República] emitiu no dia 30 de março de 2017 uma carta rogatória, seguida de diversos aditamentos, o último dos quais a 14 de março de 2018, solicitando informações”, refere o documento, acrescentando que foram constituídos 18 arguidos em Moçambique entre servidores públicos e outros cidadãos, indiciados da prática de crimes de abuso de cargo ou função, abuso de confiança, peculato e branqueamento de capitais, no âmbito do processo.
Redacção