Bombeiros de Justiça

Todos sabemos a muito tempo que o sistema de Justiça em Moçambique é muito franco perante os fortes do poder político, económico, social, cultural e ou religioso. Pouco ou nada sabíamos que havia bombeiros de Justiça ou justiça de bombeiros em Moçambique.

A detenção do deputado e antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, na África do Sul, em Dezembro de 2018, a pedido dos Estados Unidos da América, despiu em público togas de oficiais ou praticantes de Justiça em Moçambique. Quase sem nada para se taparem perante milhões de olhares vestiram-se apressadamente a bombeiros de Justiça inventada pela natureza para garantir a verdade, apenas a verdade, na sociedade.

Para fazer a Justiça de bombeiros, recuperaram rascunho de processo simulado em 2015 indiciando gente poderosa de envolvimento na fraude multimilionária relacionada com a concessão de 2.2 mil milhões de dólares norte-americanos de crédito para três projectos de pesca de atum e de segurança marítimas.

Começaram a ser “detidas” semana passada pelo menos oito pessoas, incluindo a antiga secretária particular e um dos filhos do antigo presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, que à altura da fraude era chefe do Estado, então considerado líder visionário, homem 4X4, e sem recua, pela FRELIMO.

Na África do Sul, o tribunal distrital de Kempton Park recusou liberdade provisória sob caução ao antigo ministro das Finanças do governo de Armando Guebuza.

Segundo a juíza sul-africana, a Justiça norte-americana, que mandou prender o antigo ministro, considera que Manuel Chang e companhia beneficiaram de mais de 200 milhões de dólares norte-americanos de subornos para facilitar a concessão do crédito a Moçambique, mergulhando o país e cerca de 30 milhões de moçambicanos na pior crise económico-financeira desde a independência em 1975.

Moçambique está praticamente sob sanções económicas impostas por alguns doadores que exigem esclarecimento das dívidas ocultadas ao parlamento dominado pela FRELIMO, cujos deputados aprovaram cegamente a inclusão nas contas do Estado moçambicano de dinheiro roubado.

Para a maioria dos moçambicanos, o mérito e os loiros das detenções de gente poderosa vão para a actuação dos Estados Unidos da América, porque ninguém percebe por que razão os bombeiros da Justiça levaram quatro anos para agir contra 18 indiciados de afundar o país de Eduardo Chivambo Mondlane, Samora Moisés Machel, e de outros honestos.

Bombeiros da Justiça querem Manuel Chang em Maputo, mas o antigo ministro estava livre e tratado como Sua Excelência e com direito a Passaporte Diplomático até à sua detenção em Joanesburgo, a pedido dos norte-americanos.

Isto faz-me recordar a crónica de Ortega Teixeira, da Rádio Moçambique, sobre empregado que morreu sem receber o seu dinheiro de seis anos de trabalho árduo em casa de seus patrões e vingou-se exigindo cabrito amarelo e pagamentos mensais das dívidas acumuladas.

O Rancor do Pobre roga ao Senhor que a Justiça seja feita aqui na Terra como no Céu em prol dos pobres desgraçados pela gente poderosa da minha aldeia e de outras paragens.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 20 de Fevereiro de 2019, na rubrica semanal denominada O RANCOR DO POBRE

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