Buchili acordou tarde
A procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, disse, na sua última aparição na Assembleia da República na sessão de 2019, que o julgamento de Manuel Chang nos Estados Unidos, ora preso na África do Sul a pedido da polícia americana, FBI, não é do interesse de Moçambique.
Esta afirmação é uma grande aberração porque, desde que o assunto das dívidas inconstitucionais foi despoletado, a Procuradoria-Geral da República (PGR), na pessoa de Beatriz Buchili, sempre disse, em todos os seus informes, que “ainda não encontramos matéria incriminatória para acusar seja a quem for”.
Depois da prisão de Chang e da divulgação de uma longa lista, encabeçada pelo antigo chefe de Estado, Armando Guebuza, as prisões em catadupa, confirmando a existência de caloteiros que contraíram dívidas ilegais em nome do Estado moçambicano. As informações chegaram dos Estados Unidos que se sentiram lesados com acção desses caloteiros. O mérito de denúncia dos caloteiros cabe aos Estados Unidos e não à “pacífica” PGR que diz que a ida para os Estados Unidos não só de Chang, mas todos os implicados no calote não servir os interesses de Moçambique.
O que não serve os interesses do país é deixar os corruptos e bandidos em paz. É obrigar o povo a pagar o que os outros roubam. É fingir que não conseguem ver nenhum crime numa clara roubalheira e só acordar quando a polícia norte-americana começa a prender a turma dos caloteiros. É agir ao ritmo do poder político como se marionete fosse.
É contra os interesses do povo aquele teatro que o Tribunal Supremo, a PGR e a bancada do partido Frelimo fizeram para trazerem Chang de volta para o abafarem a fim de a culpa morrer solteira. Essas todas manobras não servem, de modo algum, os interesses dos moçambicanos. Porquê só agora a PGR despertou do sono? Qualquer um, também, poderia desconfiar do despertar repentino e vigoroso da PGR.
Depois da entrada dos americanos em cena, tudo que a PGR fizer já não tem nenhum valor. Por isso, as prisões que a PGR anda a fazer, não impressionam a ninguém, nem mesmo ao mais ingênuo cidadão se deixa embarcar com a sua falsa prontidão combativa. É um gesto de ilusionismo. É uma jogada para impressionar os americanos para que se convençam de que, em Moçambique, a corrupção é, severamente, combatida enquanto tudo não passa de truques para salvar os corruptos. Moçambique é dos poucos países do mundo que protege os corruptos e ladrões. A corrupção existe em todos os países, porém, a diferença consiste na cobertura que as instituições de justiça dão aos malfeitores. Nos países de Estado de Direito, a corrupção é combatida.
No nosso caso, a polícia e a procuradoria só se ocupam em perseguir os pilha-galinhas, carteiristas e aos partidos da oposição, enquanto os grandes corruptos passeiam a sua classe.
Quando são condenados, recorrem ao Supremo, que é um grande cemitério onde os processos só entram e não são julgados enquanto os bandidos e gatunos continuam a dar palestras e vão promovendo eventos em grandes hotéis.
Submetem recursos ao Tribunal Supremo e vão à vida tranquilos e serenos porque, desse modo, sabem que o processo já morreu.
É esta a justiça que não serve os interesses de Moçambique e não é quando os ladrões são solicitados pela polícia americana.
Assim sendo, torcemos para que todos os implicados no crime das dívidas inconstitucionais sejam, sem mais delongas, recolhidos para os Estados Unidos.
Dizia Frederic Bastiat que: “Quando o saque se torna um modo de vida para um grupo de homens, eles criam, para si próprios, no decorrer do tempo, um sistema jurídico que o autoriza e um código moral que o glorifica”.
Não podia ser mais claro. É a dança que assistimos todos os dias com as instituições de justiça e de legalidade!
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 02 de Maio de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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