Governo sempre ausente
Governo sempre ausente – No passado dia 28 de Julho, visitamos as instalações da antiga Açucareira do Luabo, nas margens do Rio Zambeze, na província da Zambézia.
Falando com toda a sinceridade e honestidade, a nossa alma desmaiou e ficou toda ensanguentada porque nunca deveria ter visto o que viu em Luabo.
Nenhum país do mundo se deve orgulhar da sua história quando o destino comum de um povo é conduzido de tal maneira.
Grandes instalações, imponentes infraestruturas estão a cair, aos bocados, e as suas casas que, no passado, emprestavam uma beleza incomparável se encontram em avançado estado de degradação. Alojam cobras e morcegos. Algumas casas ainda em estado razoável de habitabilidade foram abocanhadas pelas chamadas “estruturas locais”. Há casas imponentes e invejáveis a transformarem-se em autênticas ruínas sob o olhar impávido e sereno das autoridades administrativas. Toda a alma derrama lágrimas de sal ao deparar-se com o cenário que observamos em Luabo.
O que vimos não nos restam mais dúvidas de que o nosso país continua a navegar em mar bravo, turvo e, mais grave ainda, sem uma direcção certa desde que ascendemos à independência.
Nenhum país se desenvolve quando o seu governo só aposta na caridade internacional, destrói a sua indústria e subalterniza a produção agropecuária local.
Assim, nos levaram a uma encruzilhada, deixando para atrás o que muito poderia ser produzido na nossa terra.
Os sucessivos governos do partido Frelimo conduziram-nos a um descalabro económico e social sem paralelo. Chegámos ao ponto em que nos falta quase tudo, desde estradas, escolas de qualidade, hospitais, medicamentos. As vilas e localidades só crescem em barracas, transmitindo a ideia de que a independência significa estagnação e corrupção. Se não é ditadura, é roubalheira com todas as características de ser uma prática quase oficializada, quem não se engaja na corrupção é tomado pelo grupo como um “banana”. Rouba-se e nada acontece.
As fábricas de mantas, fósforos, agulhas, calçados e de tecidos foram todas desbaratadas em nome da liberdade. Hoje temos um país quase moribundo, em estado coma induzida, onde tudo se vende e tudo se compra devido à ambição de um grupo de aventureiros que tudo fizeram para demonstrar que a ciência e a técnica poderiam ser substituídas por esperteza, politiquices e intolerância.
Hoje batemos com a cabeça no chão não pelo destino traçado por alguém que esteja acima de todos nós, mas pela malandrice de um pequeno grupo de indivíduos, sendo todos da mesma organização política.
O partido Frelimo é a principal culpada pela situação calamitosa em que o país se mergulhou. A desculpa de guerra e de regimes vizinhos hostis é uma ladainha que não convence nem a eles próprios, por ser uma grande mentira monumental. Estamos no matope pela incompetência de pensar de forma correcta e atitude lesiva.
Em Maio de 2018, o ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, um docente universitário de Economia, disse, em visita à Companhia Açucareira do Búzi, localizada na província de Sofala e falida há 28 anos, que o governo havia decidido reactivar aquela fábrica, ainda durante o mandato do presidente Filipe Nyusi. De pés juntos, Ragendra de Sousa jurou, para quem o quis ouvir, que daria a sua cabeça caso esse desiderato não fosse cumprido. Feitas as contas, depois das eleições de 15 de Outubro próximo, teremos um governo de gestão até à tomada de posse do novo o governo saído das eleições. Onde está a Companhia Açucareira do Búzi recuperada? – É mais uma promessa como tanta as outras que o povo tem ouvido de pessoas que nada fazem.
Tanto quanto se sabe, ainda não foi mexida ume única palha no sentido de reactivação da Companhia Açucareira do Búzi. O mais certo e provável é o não cumprimento da promessa do ministro Ragendra de Sousa e esperamos que seja consequente entregando a sua cabeça para imolada e não perder tempo em elaborar um rol de desculpas, como é praxe dos fracos que, quando se sentem impotentes se socorrem de mil desculpas para justificarem o que não conseguiram fazer. Esperamos que Ragendra de Sousa, pessoa que nós conhecemos venha a apresentar-se, publicamente, para ser julgado por promessas falsas ou não cumpridas. Se não cumprir, não faz mal porque estamos habituamos a viver de promessas que nunca se cumprem.
Ainda nos recordamos do “Futuro melhor”, da “Força da mudança”, slogans que só enriqueceram uns gatos pingados do convento malfadado. O que vemos é uma minoria cada vez mais rica, mais endinheirada e mais corrupta.
O nosso país não é pobre. Está sendo cada vez empobrecido devido às políticas arrasadoras seguidas pelos sucessivos governos partido Frelimo que, apesar de uma péssima governação se recusam sair do poder, ainda que o povo lhe mostre uma cartolina vermelha.
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 08 de Agosto de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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