Acordo armadilhado
Acordo armadilhado – Dá a entender que a paz não será desta vez, ainda que o povo esteja ansioso em viver na tranquilidade. Os políticos estão a cozinhar uma paz à sua imagem e semelhança, nada a ver com povo. Esta é uma paz que viabilize, apenas, as eleições, para que os políticos tenham uma vida faustosa, de impunidade que lhes permita roubar, perverter resultados eleitorais sem que sejam questionados. O acordo que Filipe Nyusi, presidente do partido Frelimo, e Ossufo Momade, presidente da Renamo, acordaram não apresentar diferenças substanciais como que Armando Guebuza e Afonso Dhlakama haviam chegado. Desta vez, a Renamo vai-se defender da UIR com socos e pontapés.
Tanto o primeiro como o segundo acordo foram concebidos para legitimar o poder. Se visassem criar um ambiente de paz, deveriam ter eliminado os obstáculos que impedem que tenhamos uma paz definitiva. Os órgãos eleitorais deveriam deixar de ser protagonistas dos processos eleitorais, como têm sido até agora. Não deve ser a missão da polícia prender, seviciar e matar membros dos partidos adversários ao partido governamental .
No nosso país, a polícia intimida e violenta, à vontade, membros dos da oposição. Prende, bate e confisca os materiais de jornalistas e pesquisadores.
Nos países democráticos, a polícia não rouba urnas para o partido no poder para este fazer enchimentos com votos falsos. O país não carece de acordos, até porquê os tem dos mais bem bem elaborados, mas não são cumpridos pelos seus subscritores, principalmente, pelo governo.
Ao invés de se baterem por novos acordos, deveriam cumprir com o que ficou acordado. Como não é esse o entendimento das partes, vão caminhando de acordo em acordo. Este novo acordo compara-se a um nado-morto, a concluir pelos problemas postos de fora, desde da exclusão de a Renamo integrar o SISE, a exclusão de uma parte dos militares da Renamo, catalogando-os de “desertores e indisciplinados”. As manobras para manter o partido Frelimo no poder são concebidas pelo SISE e a Renamo aceitou abster-se de fazer parte desta instituição. Isso é péssimo!
Para que não restem mais dúvidas, o STAE usurpou as funções reservadas ao Instituto Nacional de Estatística, extrapolando, de forma criminosa o número de eleitores de Gaza, num esforço titânico de querer ver o partido Frelimo sempre no poder. Os que assim procedem são, na verdadeira acepção da palavra, inimigos da paz e da tranquilidade porque se pretendem eternizar no poder através de eleições fraudulentas. Nyusi quer continuar no poder, a todo custo, e Momade queria deixar as matas, às pressas, eis a razão de um acordo que parece já atolado. Um país de gente séria não se constrói com um amontoado de acordos mal concebidos, de aldrabar o outro, sem sentido de Estado nem obedecem à lei.
As nossas eleições partem de pressupostos inquinados, viciados.
Uma eleição é um momento ímpar em que um povo decide sobre o seu futuro e o sentido do seu voto não deve ser alterado por ninguém, por muito poderoso que seja. Não compete aos órgãos eleitorais nem à polícia impor ao povo a vontade de quem lhes dá a ordem para virar os resultados.
A paz cria-se e a guerra, também, se prepara através de fraudes e roubos de urnas pela polícia para que o partido Frelimo possa fazer enchimento. Não há magia para manter a paz – basta reconhecer o direito do outro.
O acordo baptizado como de desmilitarização, desmobilização e reintegração tem todos os requintes de uma burla. Que órgão do Estado coordenava os raptos e assassinatos levados feitos pelos esquadrões da morte? Nós não nos esquecemos dos horrorosos actos que deixaram centenas de famílias sem pais nem irmãos. Precisamos de reconciliação e de paz, mas, não podemos esquecer do tempo em que éramos procurados como se fôssemos animais de caça. Há muita falta de visão. Pensamos que não deve haver pressa nenhuma quando se trata de discutir o futuro do povo. O recurso à guerra deve ser desmotivado através de eleições justas, livres e transparentes.
A paz não resulta apenas de acordos, mas da vontade genuína de reconciliação. As famílias que perderam seus parentes não se consolarão pelo simples facto de o partido Frelimo ter assinado um acordo com a Renamo. A reconciliação não é só entre o partido Frelimo e a Renamo. A reconciliação tem que chegar às famílias, à povoação incinerada, ao dono do camião queimado, ao concidadão que foi forçado a procurar abrigo além-fronteiras, fugindo das atrocidades das tropas governamentais.
A reconciliação deve ser um manto que cobra a todos os afectados pelas sucessivas guerras contra o povo e não cingir-se a acordos, geneticamente, doentios, condenados ao fracasso, destinados a legitimar a uns e submeter a vassalagem a outros.
Um acordo envenenado não leva à paz. Pode adiar a guerra mas não resolve os problemas que levam a que o país volte a desaguar em guerra.
De acordo de paz definitiva é apenas falsa publicidade. Desejaríamos que estivéssemos errados quanto a esta questão, porém, a nossa dúvida se mantém.
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 16 de Agosto de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
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