Escoltas

Escoltas – O propósito desta reflexão é, antes de mais, convidar o leitor para uma meditação sobre um tema/atitude que toca a todos: escoltas.

Não sou competente para me debruçar tecnicamente sobre o assunto, por ser de carácter castrense, pelo que cingir-me-ei, apenas, à sua componente social, concretamente o seu o lado patético e trágico.

Pessoalmente não vejo a relevância de escoltas para a maioria das ditas “altas individualidades”, quanto mais tendo em conta que o país não está em guerra.

Tomemos como exemplo as escoltas do Papa Francisco na sua recente visita a Moçambique.

A serena escolta do Papa Francisco em Maputo

O Santo Padre circulava, sim, escoltado, mas não assistimos àquela palhaçada que caracteriza muitas das nossas habituais escoltas: altíssimas e estonteantes velocidades, zig-zags, luzes intensamente acesas e militares (ou polícias?) a acenar e berrando agressivamente para que as viaturas circulando por perto se afastem.

Infelizmente, as palhaçadas evitáveis nas escoltas dos nossos “ilustres” não raras vezes minam a integridade física de pessoas, enlutam famílias e destroem bens preciosos.

Ossufo Momade, líder da RENAMO, com ADC lhe segurando guarda-chuva

Voltando de novo ao exemplo da recente visita do Santo Padre: foi simplesmente deprimente ver “figura(nte)s públicas” nacionais se dirigindo à missa a ser orientada pelo humilde Papa Francisco com os famosos Ajudantes de Campo (ADC) lhes segurando os chapéus-de-chuva. É(ra) mesmo preciso? São chefes de família aqueles que vocês humilham pública e gratuitamente… Sei que dirão que estão a trabalhar, mas sinceramente… vamos pôr os pés no chão e pensemos no amanhã. Somos todos passageiros neste Mundo…

Presidente Nyusi em plena campanha eleitoral no meio de uma multidão

Se elas [as escoltas] são efectivamente necessárias, e vocês [figura(nte)s públicas], correm efectivamente perigo no seio do povo, então por que é que não exibem/andam (com) as vossas tresloucadas escoltas durante esta campanha eleitoral? Vos vemos convivendo, dançando até fingindo que comem com o povão. Talvez pensam que somos todos uns amnésicos e parvinhos… Enganam-se, redondamente.

Tenho amigos ministros e ex-ministros de posturas diferentes. Aos que “não se fazem” só porque são ministros não deixo de expressar o meu apreço e (também) não deixo de dizer aqui, que olho com desdém àqueles que à mais pequena “subidinha” na vida “se fazem”, ao ponto de alguns até deixarem de atender chamadas/mensagens telefónicas, se é que não mudam mesmo dos números dos telemóveis. O problema assume contornos penosos quando “descem/caem”. Mamaweee!

Edson Macuácua, em campanha eleitoral

Julgo que mesmo estando “lá em cima” podem evitar algumas atitudes ridículas para “serem vistos”.

Parece que é mesmo esse o princípio de SEGURANÇA: ver antes de ser visto.

Serão mesmo imprescindíveis escoltas e ADC em todo o lado (mesmo quando vão visitar as vovós lá na aldeia natal) para muitas das nossas “figura(nte)s públicas”?

Será que fazem aqueles sinistros e aparatosos espectáculos para se sentir mais importantes?

Sinal de que na realidade não há perigo para ninguém, quando querem circulam e convivem connosco à vontade e em todo o lugar e nada vos acontece porque o povo, pelo menos o moçambicano, não é maldoso.

Só que quem abusa e deve geralmente teme.

Por favor, evitem certas palhaçadas ridículas porque assim podem salvar vidas e acautelar bens preciosos e vão ficar bem na fotografia.

EVITEM A ARROGÂNCIA E PENSEM NO AMANHÃ!

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 13 de Setembro de 2019, na rubrica semanal TIKU 15

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