Nhongo é um revolucionário

O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, entende que o Mariano Nhongo, que contesta a liderança de Ossufo Momade na RENAMO, “é um revolucionário”, porque está a afrontar a direcção do seu partido por ter manipulado o objecto das negociações com o Governo do partido Frelimo.

Para Daviz Simango não faz sentido a acusação de Ossufo Momade, segundo a qual Mariano Nhongo é um “desertor” da RENAMO e acusa a “comuni­dade internacional” de muitas vezes navegar “a favor do vento”.

De acordo com o líder de terceiro partido mais popular de Moçambique, a comunidade internacional é “inconsistente” na sua actuação neste país africano e que as suas intervenções dependem dos seus interesses e não dos moçambicanos.

Em entrevista a ser publicada na íntegra na próxima sexta-feira no semanário Savana, Daviz Simango aborda vários temas de actualidade nacional e faz duras críticas ao presidente da RENAMO, Ossufo Momade, por alegadamente estar a defender interesses pessoais, em detrimento dos do partido e dos moçambicanos.

Daviz Simango diz que a ganância pelo bem-estar financeiro fez com que Ossufo Momade, assinasse o acordo de paz de Agosto de 2019 apenas com objectivo de agradar a si mesmo e, dessa forma, ignorar os interesses do povo moçam­bicano e os motivos que fizeram com que a sua organização fosse ao mato.

Na entrevista, o também edil da cidade da Beira diz que quer Filipe Nyusi, Presidente da República, bem como Ossufo Momade, presidente da Renamo, ao colocar seus interesses acima dos do país, mostraram o seu total desrespeito ao povo moçambicano e ignoraram os princípios que regem a convivência democrática.

Sublinha que Ossufo Momade ignorou também os princípios defendidos pelo falecido Afonso Dhlakama e pelo seu partido e que sempre foram usados para justificar a permanência da liderança do movimento nas matas.

“Não faz sentido que você, como líder de um grupo, está no mato com os seus homens para reivindicar algo. É chamado para negociar, chega a um entendimento e depois sai do mato para cidade sem dizer nada aos membros do grupo e quando exigem expli­cação, em vez de respondê-los, chama-os de desertores. Isso é egoísmo”, disse Simango, que também já pertenceu à RENAMO.

Simango recorda que os chamados guerrilheiros da Re­namo foram às matas por algum motivo, estabeleceram um pacto social com a sua liderança e que, de certeza, houve garantias de que, pelos anos que ficaram no mato, sem organizar suas vidas, seriam compensados.

“Foi triste ver um dos prota­gonistas dos acordos a dizer que não reconhece as exigências dos seus homens, que são elementos simples, são desertores. Diz isso a partir de um hotel de luxo, em Maputo, esquecendo que aqueles homens sempre tiveram como principal ferramenta de trabalho a arma e que as armas, apesar de serem da Renamo, estão na posse desses inválidos. Como preservar a paz com este tipo de posiciona­ mentos”, questiona.

No “cheirinho” da entrevista avançado esta terça-feira pelo mediaFax, Simango sublinha que para que Ossufo Momade assinasse os acordos com o governo prevaleceu aquela máxima de que: “chegou a minha vez de comer. Deixe-me ir embora, vocês que se arranjem”.

Simango conta que a forma como está a ser conduzido o processo de paz, deixa claro que Ossufo Momade assinou o acordo pelo estômago e não pelo país.

“Você mobiliza homens e leva-os para o mato. Entrega armas e diz que vamos lutar contra o roubo de votos, perseguição e intolerância política, lu­tar pela democracia. É chamado para o diálogo e lá exige que os seus homens sejam integrados nas forças armadas, na polícia e nos Serviços de Informações e Segurança de Estado (SISE). Das nego­ciações assina-se o acordo sem que as plataformas que sempre reivindicaram não foram resolvidas. Além de demons­trar falta de coerência, isso é suspeito, é extremamente grave”, lamentou.

Daviz Simango diz que quer o governo bem como a liderança da Renamo devem estar conscientes de que as motivações que levaram as pessoas para as matas não estão satisfeitas.

Simango fala ainda da saúde do MDM e nega que o partido esteja em decadência e que, nas últimas eleições não perdeu, foi roubado pela Frelimo com apoio dos órgãos eleitorais. Garante que a organização vai-se erguer e nos próximos desafios aparecerá com muita força.

Desvaloriza a razia que sofreu nas vésperas das eleições autárquicas de 2018 e gerais de 2019 e sublinha que a saída das chamadas figuras so­nantes foi bom porque “o partido viu­-se livre de ingratos e gananciosos”.

Sobre o conflito de Cabo Del­gado, o presidente do MDM refere que as investigações devem começar dentro da própria Frelimo porque é na organização onde militam os grupos com vários interesses no açambar­camento dos recursos naturais e no controle das rotas de tráfico. Simango é da opinião de que a Frelimo é au­tora moral da instabilidade de Cabo Delgado.

 (Correio da manhã de Moçambique)

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