Populações do Centro e Norte

Populações de algumas regiões do Centro e Norte de Moçambique preferem apresentar as suas queixas à RENAMO, maior partido da oposição, em detrimento das autoridades estabelecidas oficialmente, em caso de desavenças e/ou inquietações, a avaliar por relatos de alguns jornais daquelas regiões.

Hoje, no calor das emoções, estes acontecimentos podem ter interpretações algo controversas, mas depois da poeira assentar, certamente que os sociólogos, antropólogos e historiadores terão um Trabalho Para Casa (TPC) para, com serenidade, esclarecer o sentido destes comportamentos das populações nestas zonas.

O certo é que o jornal electrónico “Ikweli” (“Verdade”, na língua emákua), editado na cidade de Nampula, capital da província nortenha do mesmo nome, faz manchete com esse cenário na sua edição desta terça-feira (16 de Junho de 2020), enquanto que o jornal “Diário de Moçambique”, editado na cidade da Beira (Sofala), relatava situação quase similar, numa das suas edições de Maio deste 2020.

“Cidadãos ‘refugiam-se’ na Renamo para denunciar extorsão por parte dos membros da PRM [Polícia da República de Moçambique], escreve, em parangonas, na capa da sua edição desta terça-feira, o jornal “Ikweli”, descrevendo o que diz tratar-se de “efeitos do estado de emergência em Nampula”.

Com muitos detalhes, o “Ikweli” relata vários episódios de cidadãos que foram denunciar “comportamentos anti-profissionais por partes dos agentes da Polícia da República de Moçambique” que andam a “extorquir e agredir” cidadãos “pacatos”.

Descreve, por exemplo, o caso de um nacional que vende no maior mercado grossista da terceira cidade mais importante de Moçambique (Nampula), o “Waresta”.

Tomás Fernando dirigiu-se à delegação política da RENAMO em Nampula para “pedir socorro”, de acordo com o jornal, depois de alegadamente ter sido agredido no mercado Waresta, onde vende carne de frango confeccionada.

O vendedor relata que os agentes da PRM vandalizaram a sua mercadoria, agrediram-no fisicamente e, na confusão, perdeu os seus bens, três dentes e dinheiro estimado em 900 meticais (perto de 12,8 dólares norte-americanos).

“Naquele momento, eu caí e fui recuperado pelas pessoas do mercado. Assim, eu estou sentado em casa e sem fazer nada, nem sei como sustentar os meus filhos, perdi a minha mercadoria e o meu dinheiro”[sic], escreve o “Ikweli”, citando o vendedor.

Entre vários relatos das “mais de meia centena” de pessoas que se dirigiram à sede da RENAMO em Nampula para se queixar da PRM, o jornal descreve a história de Teresa António, que terá sido obrigada a pagar 300 meticais (pouco mais de 4,2 dólares norte-americanos) para “resgatar” a filha das mãos da polícia.

Nampula é a província mais populosa de Moçambique e tem um histórico de votar predominantemente na RENAMO em quase todos os pleitos eleitorais, sendo ainda terra natal do actual presidente da “perdiz”, Ossufo Momade.

Sabe, na Zambézia

Afonso Dias, comandante distrital da PRM em Morrumbala, na província central da Zambézia, foi citado no dia 25 de Maio deste 2020 pelo jornal “Diário de Moçambique” a reconhecer que os residentes de Sabe, naquela região, preferem ir à base da RENAMO para dirimir litígios, ao invés de recorrer às autoridades legítimas (polícia ou tribunais).

“Quando um cidadão é suspeito de ter praticado um crime é encaminhado pela população à base militar da RENAMO para alegadamente responder pelos seus actos”, disse o comandante distrital da PRM de Morrumbala, Afonso Dias, citado pelo Diário de Moçambique na sua edição do Dia de África.

“Em caso de desinteligências no ambiente doméstico ou comunitário, a população leva a parte que se acha culpada para ir responder na base militar onde se encontram as forças residuais da RENAMO”, prosseguiu a fonte.

No entanto, o oficial da PRM deplorou a opção das populações , alegando que os guerrilheiros só se limitam a violar os direitos humanos “porque os visados são torturados sem o mínimo de defesa”.

Afonso Dias apelou às populações para apresentar os seus problemas junto das autoridades oficiais, porque, sublinhou, os julgamentos não são “vocação dos guerrilheiros”.

Zambézia é o segundo maior círculo eleitoral de Moçambique e igualmente tem um histórico de preferir a RENAMO em quase todas as eleições multipartidárias.

A RENAMO tem uma série de bases espalhados por algumas regiões de Moçambique, com destaque para a região centro, estando neste momento a serem desactivadas no âmbito do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR).

 (Correio da manhã de Moçambique)

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