Imitações de mau gosto

Imitações de mau gosto –  Lobbys extremamente influentes estão a jogar forte e a ganhar pontos e, para já, está assente que a partir de 27 deste Julho deverão retomar as aulas presenciais em alguns níveis de ensino, que pode ser uma aventura de consequências inimagináveis, mas, à partida, lucrativa para esses grupos de pressão.

Todo o mundo e respectivos sectores foram surpreendidos pela covid-19 e as soluções em muitos casos têm sido das mais disparatadas e até desastrosas e, Moçambique, tem tido a sorte de não estar no pelotão da frente nesta crise e, logo, em condições de aprender dos erros dos primeiros.

Infelizmente, a opção da maioria dos gestores e influentes da chamada “Pérola do Índico” tem sido a mais fácil, nem que mesmo assim tenha de ser apimentada com algum teatro, para parecer algo criativo: select, copy & past, mesmo para casos claramente desajustados com a nossa realidade.

Porque em determinado ponto, a dado momento se decretou confinamento, nós também precipitadamente confinamos. Mas na maioria desses confinamentos houve assistência aos confinados e necessitados. E nós?  “Nyeto”!

Porque em determinado ponto, a dado momento se decretou aulas online, nós também precipitadamente partimos para aulas online, num país sem cobertura plena da rede de electricidade, para não falar da internet, e o resultado foi que mesmo no ensino superior, segundo, entendidos, mais de 60% dos discentes ficaram “fora do jogo”. Imagino nos níveis secundário e primário.

Porque em determinado ponto, a dado momento se decretou o regresso às aulas. Também, precipitadamente, toca a decretar o regresso às aulas.

Mas para que tipo de escolas? As escolas do Moçambique real e profundo?

É que fala-se de colocação de equipamento de higienização à entrada da escola. Conheço muitas escolas, incluindo na cidade de Maputo, com “muitas entradas”, dentre elas talvez apenas uma formal.

Conheço escolas onde há décadas os docentes fazem escala para se fazer presente nos seus postos de atividade – de modo a investir em outras áreas de rendimento para assegurar uma subsistência relativamente mais diga -, e se diz que serão eles a cuidar do cumprimento dos protocolos de higiene… Haja seriedade!

Este tipo de imitações imprudentes, consequências de leituras redutores e corrida para o lucro em primeiro lugar, pode levar algumas pessoas a participar, talvez ingenuamente, num genocídio simplesmente evitável.

É difícil compreender esta correria para a retomada das aulas presenciais e cultos religiosos colectivos, quando os números de contaminações crescem a cada dia e o discurso oficial é privilegiar a prevenção, ainda mais tendo em conta a fragilidade de todos os nossos sistemas de actividade, na área da saúde, da educação e da economia, em geral e si diz que o nosso maior valor é a vida, e não a facturação.

Espantosamente em Moçambique o vírus não está a ter grande progressão, quando comparando com as projecções iniciais e com outras realidades, mas não há garantias de nada, até porque a disseminação da doença pode ser maior que aquela que é referenciada nos números oficiais. E a razão é simples: há dezenas de casos sem vínculo epidemiológico conhecido ou não reportados dentro e fora do país. Ou seja, quem os contaminou pode ter contaminado também outras pessoas e estas outras ainda. Algumas delas poderão ser estudantes ou “irmãos” em Cristo ou Alláh.

Vamos, hipoteticamente, deixar as crianças e os fiéis de lado e falemos dos cerca de 200 mil discentes do ensino superior, que nem todos têm transporte próprio ou escolar e dependem da rede pública e multipliquemos esse risco pelas respectivas famílias, no mínimo cinco pessoas cada.

Se descermos para o nível dos “putos”, tão ansiosos que andam de regressar ao convívio com os colegas, imagino a troca a inevitável de abraços e beijinhos, logo ao primeiro encontro, para não falar do convívio ao intervalo e, depois, consideremos os respectivos familiares como “contactos subsequentes”.

Será que custa dar este ano por perdido e se declarar uma “reprovação automática para todos”, como aconteceu em diversas esferas de actividade, já que correr não é chegar?

Há países que passaram por crises naturais e humanas ou humanitárias severas, aceitaram que esse tempo (um, dois ou mais anos) de crise foi perdido, reorganizaram e hoje marcham impetuosamente para o progresso e fazem inveja a muitos… Exemplos os há aos montes.

Basta de fingimentos imitações patéticas!

Não gostaria de ver seja quem for a ser responsabilizado por um genocídio que pode ser evitado, apenas porque que ter as propinas pagas ou dízimos arrecadados, nem que seja como cúmplice.

Talvez fosse bom, futuramente, antes de se começar a uma sessão do Conselho de Ministros e reuniões de outros (des)governantes, se rodasse a música “Verdes Campos” (https://www.youtube.com/watch?v=db0QkJI7rjs), do lendário agrupamento Primeiro de Maio.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 10 de Julho de 2020, na rubrica semanal TIKU 15!

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