Fingidos
Fingidos – Só porque ficaram badalados publicamente por estes dias, os episódios já com barbas brancas que amiúde ocorrem na Escola Prática da Polícia de Matalane e não só, vieram avivar o espírito de hipocrisia que campeia nesta pátria da pedra a pedra, prenhe de fingidos e onde muitos falam e/ou escrevem apenas para aparecer e/ou justificar alguns trocados.
Anda (quase) tudo a fingir alguma indignação por algo que não é novidade nem foi despoletado por queixa de alguma “vítima”, mesmo muitos sabendo como se logra seja lá o que for, salvo raríssimas excepções, em todas as esferas desta “pátria de heróis”.
Felizmente este povo, que alguém um dia disse ser “maravilhoso”, não se pode queixar de estar de todo mal representado. Aliás, as nossas deputadas, bem representam as mulheres moçambicanas.
Elas [as digníssimas deputadas] parecem corporizar alguma excepção neste universo de fingidos, pelos menos no caso vertente.
Porque as nossas deputadas conhecem as mulheres que representam, nem andaram por aí a alimentar polémica com comentários e fingimentos de indignação por causa de episódios que há décadas quase todos sabem que ocorrem em Matalane e noutros centros de formação político-militar desta “pérola do Índico”.
Não me recordo de alguma deputada da nossa “casa do povo” ter perdido o seu rico tempo a fingir indignação com os relatos do que se passa em Matalane, porque elas sabem, como, grosso modo, se logra uma vaga laboral, uma passagem de classe, uma boleia, um telemóvel, uma sopa, uma recarga (vulgo crédito), uma capulana em datas festivas, uma ascensão no seio do(s) partido(s) político(s), apenas para citar pouquíssimos exemplos.
Se, eventualmente, alguma “carta” faltava no “baralho”, Nazário Muanambane, presidente da Associação Moçambicana dos Polícias, veio dissipar a dúvida, afirmando, de boca cheia, que “Raparigas são preguiçosas e querem trabalho leve dos instrutores”. E como não há almoços grátis…
Quem também não viu nenhuma piada em debater algo velho e que faz parte do quotidiano moçambicano, em muitos sectores, foi o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Orlando Mudumane. Resoluto, disse: “Não há nada a esclarecer…” E mais não acrescentou.
Mas, o zé povinho, por mera suspeita de furto de uma agulha, e despido do direito de presunção de inocência, é exibido e vilipendiado publicamente, com a conivência activa dos numerosos pés-de-microfone que pululam por estas bandas, armados em “jornalistas”.
Depois todo o mundo finge espanto quando assiste ao desempenho deprimente quotidiano dos agentes da dita lei & ordem de Moz.
E, depois, todo o mundo finge que nada vê quando atrocidades são cometidas com todo o requinte de brutalidade dentro de portas pelos integrantes das forças “treinadas” em Matalene e/ou Michafuteni, e inunda as redes sociais quando a barbaridade ocorre fora de portas, malta States e/ou na vizinha John…, porque convém e é politicamente correcto. Fingidos desprezíveis!
Mesmo sem ser novidade, fácil imaginar o quão embaraçoso é, por estes dias, andar ao lado de uma mãe, esposa, irmã ou coisa parecida, envergando uniforme da PRM, quanto mais, se ela tiver atributos corporais devidamente distribuídos.
Estou como estou, hoje, porque não tenho jeito para ser fingido. Todavia, continuo a escrever coisas como estas porque ainda creio que, como em anteriores desafios, Moçambique triunfará e permanecerá!
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 14 de Agosto de 2020, na rubrica semanal TIKU 15!
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