Orfandade

Orfandade A morte de chefe de família nas comunidades africanas desorganiza, provoca desordem e sofrimento aos membros da família, particularmente crianças – regra geral, salvo algumas excepções.

Na minha aldeia há um ditado popular secular que diz “awu siwana uta giwona loku mamani a yenza” – pobreza vê-se quando a mãe viaja. Com viagem da mãe, crianças ficam com pai ou sozinhas e assumem a responsabilidade de gestão da casa.

Na África do Sul, a morte de líderes carismáticos do ANC, que incluem Nelson Mandela, Walter Sisulu, Govan Mbeki, Andrew Mlangeni, último réu do julgamento de Rivonia a perder a vida, deixou o movimento político mais antigo em África à deriva.

A ascensão do populista Jacob Zuma à liderança do ANC em Dezembro de 2007 abriu fissuras com graves consequências a longo prazo. No ano seguinte, Zuma destituiu Thabo Mbeki do cargo de chefe do Estado sul-africano cerca de oito meses antes do fim do seu segundo e último mandato, sem culpa formada. 

Thabo Mbeki ficou abalado, mas conteve-se e ficou calado.

No entanto, alguns dos seus seguidores deixaram o ANC e criaram seus partidos com principal objectivo de destronar o ANC de Zuma. Dez anos depois, em Dezembro de 2017, o empresário milionário Cyril Ramaphosa foi eleito presidente do ANC e dois meses depois afastou Jacob Zuma da chefia do Estado quando faltava um ano para o término do seu segundo e último mandato, na sequência de descontentamento generalizado dos membros do ANC e de vários sectores da sociedade provocado por escândalos de corrupção generalizada durante a sua governação. 

O orgulho do líder populista ficou profundamente abalado.

Zuma decidiu contra-atacar usando terceiros.

Mas esta semana, o veterano político vestiu-se a guerreiro zulu e foi à guerra, atirando setas e azagaias contra Ramaphosa, através de carta em alegada resposta à mensagem de Ramaphosa dirigida aos membros do ANC expressando profunda preocupação sobre a corrupção envolvendo camaradas seniores do partido no poder.

Os ataques de Zuma contra Ramaphosa mostram que o ANC ficou órfão com a morte dos seus líderes carismáticos.

Em Moçambique, o impacto do assassinato de Eduardo Mondlane em 1969 em plena luta de libertação nacional foi sabiamente controlado pela FRELIMO, que logo depois escolheu Samora Machel, guerrilheiro destemido e carismático, para a liderança.

Dezassete anos depois, Samora Machel morreu em acidente de aviação e a FRELIMO conseguiu controlar o impacto da sua morte e escolheu o diplomata Joaquim Chissano para dirigir o partido e o Estado moçambicano. Chissano ficou 18 anos no poder.

A ascensão de Armando Emílio Guebuza, combatente da primeira linha como Chissano e Samora, mudou a forma como o partido Frelimo lidava com assuntos internamente.

Guebuza fez da governação de Chissano o seu cavalo de batalha “combate ao deixa andar”, implícita referência à tolerância de Joaquim Chissano em lidar com vários assuntos na sociedade.

O diplomata Chissano nunca reagiu. Manteve-se calado.

Acreditando que Filipe Nyusi era sua criação ou delfim, Guebuza apoiou a ascensão do seu Ministro da Defesa ao poder.

Entretanto, nos últimos meses os dois (Guebuza e Nyusi) estão em rota de colisão caracterizada por críticas indirectas em público.

Chissano deve vestir-se de fato macaco e com extintores para apagar o fogo dentro do movimento de libertação.

Em Angola, José Eduardo dos Santos, sucessor do líder carismático Agostinho Neto, está quase exilado na Espanha, porque se tornou gato e rato com João Lourenço, seu sucessor, na liderança do MPLA e dos destinos de Angola.

A lista de órfãos é extensiva a movimentos políticos de oposição, que incluem UNITA, de Jonas Savimbi, cujo projecto de Nyangau que incubou o nascimento da UNITA morreu em combate com o seu líder. A RENAMO, de Afonso Dhlakama, está igualmente a ressentir-se da morte do seu líder carismático.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 02 de Setembro de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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