Um rico não pede sal

Um rico não pede sal – Nasci e cresci longe de pequenos e grandes centros urbanos na década de 1960. A fotografia ilustrativa de centro urbano era de meia dezena de cantinas, onde a minha mãe costumava vender castanha e mafura e comprava sal e algumas peças de roupa para mim e para meus irmãos na véspera de Natal.

Na aldeia, os vizinhos respeitavam muito a nossa casa, porque o meu pai era mineiro e considerado relativamente rico.

Em casa havia algumas três ou quatro cabeças de bois e vacas, alguns cabritos e cabras, uma burra de quatro patas (na vila mais próxima a bicicleta era chamada burra por jovens).

O meu pai também tinha charrua que era puxada por dois bois cultivando a terra, uma bicicleta e tanque para armazenar água de chuva. Os meus pais tomavam chá de manhã sem pão nem leite.

Nós as crianças só tomávamos chá nos Domingos, mas era considerado luxo para uma família na aldeia com muitos pobres e desempregados, alguns dos quais dependiam de pesca artesanal e agricultura de subsistência. 

O meu pai não tinha amigo na aldeia. Todos o consideravam mesquinho porque tinha alguns bens e andava bem vestido.

A nossa mãe proibia-nos de comermos comida em casas de vizinhos. Mas tínhamos amigos de famílias muito pobres em relação a nós.

Os nossos amigos vinham à nossa casa e comiam connosco.

A minha mãe tinha amigas, que vinham à nossa casa conversar, mas ela não ia a casas delas.

Este conto é preâmbulo da curta crónica sobre o comportamento da África do Sul em relação aos seus vizinhos pobres.

A África do Sul não respeita os vizinhos. Toma decisões sem consultar ou envolver outros países vizinhos. Quando quer fecha as suas fronteiras. Aconteceu em Março de 2020 quando fechou 35 dos 53 postos de fronteira terrestre sem coordenar com os vizinhos. Sem alternativa, os vizinhos tiveram de fechar os seus postos de travessia. (Um rico não pede sal)

Na primeira semana de Janeiro de 2021, a África do Sul voltou a mostrar que não respeita ninguém na região.

Depois de deixar sair dezenas de milhares de emigrantes para passarem as festas de Natal e do final do ano nos seus países de origem, a África do Sul fechou as fronteiras exigindo testes negativos de coronavírus a todos aqueles que estavam a regressar para retomarem as suas actividades laborais.

Houve longas filas em quase todos os postos de entrada. Dezenas de milhares de viajantes passaram e passam mal para atravessar.

Lesotho e Zimbabwe declararam confinamento geral, por causa de coronavírus, encerrando as suas fronteiras com a África do Sul, pais mais infectado e afectado na região da África Austral. 

Mas a sua dependência económica em relação ao gigante económico regional fragiliza as medidas. Lesotho abriu excepção para os seus mineiros que trabalham na África do Sul.

Para aliviar o sofrimento dos seus cidadãos a caminho da África do Sul, Moçambique introduziu testagem rápida na fronteira de Ressano Garcia para viajantes, mas autoridades sul-africanas com desprezo e desdém rejeitaram os testes embaraçando o vizinho, que se viu obrigado a aplicar o princípio de reciprocidade.

Porém a sua dependência não ajuda, pois, centenas de moçambicanos tentam violar a fronteira sem testes para África do Sul e são apanhados e devolvidos todos os dias.

África do Sul mostra que não tem amigos, só tem interesses na região. O rico não vai à casa do vizinho pobre pedir sal para temperar bife, mas o vizinho pobre sempre vai pedir sal. (Um rico não pede sal)

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 13 de Janeiro de 2021, na rubrica de opinião denominado O RANCOR DO POBRE

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